O risco da improbabilidade
As náuseas são iguais quando assisto aos que
pontapeiam quem já está caído no chão, ou quando vejo filas de babados
ajoelhados para um beija-mão. E é, sobretudo, isto que me resta dizer
sobre o espectáculo à volta da crise no Grupo Espírito Santo (GES), que
esta semana acumulou mais uma improbabilidade - Ricardo Salgado foi
detido, na qualidade de arguido, para interrogatório, no âmbito do caso
Monte Branco.
Os sinais de que a supervisão e a justiça
estão a funcionar existem e, se assim for, isso basta-me. Os crimes sob
suspeita são graves e aquilo que se exige é, como sempre, um julgamento
justo e um tribunal independente. E rápido, muito rápido. Sob pena de
ser tarde de mais e as repercussões no próprio BES e na economia se
tornarem insustentáveis.
A queda de Ricardo Salgado - outra
improbabilidade - é, afinal, muito mais do que a ruína de um rico todo
poderoso: é a falência de um nome, é a descredibilização de uma marca.
Neste momento, alguém sabe o que se passa na cabeça de um cliente do
BES?!
A lei protege a maioria dos depositantes, o Banco de
Portugal garante, a toda a hora, que o banco está sólido e que uma coisa
é o GES, outra coisa é o BES, mas só Vítor Bento e a sua equipa
saberão, na verdadeira medida, qual o real impacto desta crise no
negócio do banco. Imagino até que, se pudesse, o novo presidente
executivo do banco - e o próprio Banco de Portugal - já teria refundado o
BES, a começar por uma mudança de nome. Espírito Santo é, neste
momento, tudo menos um nome recomendável.
E há mais. A falência
de Ricardo Salgado e da família Espírito Santo é, também, mais um
sintoma da fragilidade do país, de um país sem capacidade de
investimento, onde não há dinheiro, onde os empresários vivem com a
corda do endividamento ao pescoço e onde as empresas passam, uma atrás
da outra, para as mãos de quem pode. Se não estava bem, ainda pode ficar
pior, o país.
IN "DINHEIRO VIVO"
26/07/14
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