20/07/2014

ANDRÉ MACEDO

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Estamos a perder 7-1

O empréstimo da PT à Rioforte (Grupo Espírito Santo) é uma das piores decisões tomadas por uma empresa portuguesa de que tenho memória. Emprestar 900 milhões de euros a um grupo em desagregação acelerada não foi apenas um ato de gestão temerário, foi um abuso de confiança que só pode custar o lugar a Henrique Granadeiro na futura CorpCo (que resultará da fusão entre a PT e a Oi), sendo certo que a reputação profissional do gestor é irrecuperável, a não ser que surja qualquer explicação que, com as informações conhecidas, parece improvável.

Talvez um destes dias Granadeiro aceite dar explicações públicas sobre o assunto - tem esse dever -, mas por enquanto tem-se limitado a publicar comunicados que não justificam nada e só demonstram o infeliz serviço que prestou a Portugal. Não há dia que passe em que os acionistas brasileiros não insistam num ponto: os portugueses terão de pagar em ações o risco assumido por granadeiro. Perderão peso na fusão, lugares na administração, capacidade de decisão, seguramente capital de confiança. Isto se a consequência não for ainda mais radical.

O que Granadeiro fez, se nada acontecer entretanto que mude o rumo dos acontecimentos e a sua interpretação, foi talvez dar a machadada final na pretensão de Portugal ter uma multinacional na área das telecomunicações e de mostrar que a aliança Brasil-Portugal faz todo o sentido a vários níveis, a começar pelo económico, mas não se ficando por aí.

Mas há outro ponto. Como se vê por esta história, não são apenas os acionistas maioritários das empresas cotadas que abusam muitas vezes dessas posições, ignorando os sócios minoritários e pisando os limites estatutários. São também os gestores que se comportam como se as empresas fossem literalmente suas. Em Portugal isto é particularmente grave porque, além de uma certa cultura de servilismo, também não há acionistas ativistas. Ou seja, acionistas que, sem poder para mandar efetivamente nas companhias, entram nelas para influenciar a gestão e fiscalizar o rumo dos acontecimentos. Nem sempre isto é bom, é verdade. Alguns só entram para espremer dinheiro - exigir o pagamento de dividendos ou forçar vendas ou fusões que só têm em vista o curto prazo e o seu benefício particular -, mas a verdade é que a sua presença é dissuasora. São uma espécie de travão, um fator de pressão para as comissões executivas. No ecossistema empresarial, estes contrapesos têm um papel a desempenhar.

O que aconteceu na PT é o reflexo de uma cultura empresarial que, no momento da verdade, no instante mais delicado da sua história recente e do País, revelou o seu pior lado. Não é só, portanto, o Estado que está mal. O Estado somos nós, as empresas, os trabalhadores, os portugueses com poder que nos últimos anos têm ficado muito aquém das circunstâncias. Estamos a perder por 7-1.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
10/07/14


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