ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
Os segredos dos submarinos
A Justiça alemã mantém secreta a sentença que condenou, no final de 2011, dois administradores da Ferrostaal, no caso da venda de submarinos a Portugal e à Grécia. Recusou cedê-la à comissão parlamentar portuguesa que investiga os negócios de armamento, mas a VISÃO já a leu
No dia 9 deste mês, os deputados da comissão parlamentar de inquérito
aos programas de compra de equipamento militar solicitaram à
Procuradoria-Geral da República (PGR) cópias da acusação e da sentença
por corrupção ativa, no caso dos submarinos. Os documentos já haviam
sido enviados pelos alemães ao Ministério Público, em resposta a uma
carta rogatória portuguesa. Mas, em meados de julho, a PGR, num ofício
"confidencial", comunicou aos deputados não poder satisfazer a
solicitação.
Como as regras da cooperação judiciária internacional não
permitem que documentos obtidos na sequência de um pedido de auxílio
judiciário sejam utilizados fora do âmbito da investigação a que se
destinam sem a autorização da autoridade que os enviou, o organismo
dirigido por Ana Marques Vidal contactou a Procuradoria de Munique. E de
lá obteve um rotundo "nein!" como resposta.
Os alemães invocaram que a
sentença "não é pública" e que a sua entrega à PGR portuguesa teve como
única finalidade a investigação, em Portugal, de um processo criminal (o
dos submarinos), não podendo ser usada para outros fins. Resta à
comissão parlamentar dirigir-se diretamente ao Governo de Angela
Merkel. As expetativas do deputado socialista José Magalhães, que
sugeriu a iniciativa da comissão, quanto ao conteúdo dos documentos,
eram grandes. Mas, mesmo que o Governo alemão responda em tempo útil, o
mais certo é vê-las frustradas.
O que dizem os documentos?
A VISÃO já leu a acusação e a sentença que condena os ex-gestores da
Ferrostaal, Johann-Friedrich Haun e Hans-Dieter Mühlenbeck, ambos de 76
anos, a multa e a dois anos de prisão com pena suspensa.
No caso
português, a documentação requerida pela comissão parlamentar aborda,
essencialmente, o pagamento de subornos ao ex-cônsul honorário de
Portugal em Munique, o cidadão alemão Jürgen Adolff, que, num processo
paralelo, foi condenado, em março deste ano, a dois anos de prisão
também com pena suspensa. Adolff apresentara-se a Haun enquanto cônsul
honorário, propondo-lhe um contrato de consultoria com vista a uma
"assistência decisiva" para influenciar o Governo português na opção
pelos submarinos alemães em vez dos concorrentes franceses.
No caso
Lisboa optar pelos germânicos, Adolff receberia 0,3% do valor da
encomenda dos dois submarinos, estimada em 880 milhões de euros. Ou
seja, 26,4 milhões de euros. "Após a conclusão do contrato de
consultoria, o Dr. Adolff continuou a sua atividade para a Ferrostaal AG
em contradição com as suas obrigações oficiais de cônsul honorário de
Portugal, com o conhecimento e a vontade do arguido Müllenbeck", lê-se
no acórdão da 6.ª Vara Criminal do Tribunal Estadual de Munique.
* A história continua muito mal contada, parece-nos que nunca seráesclarecida em tempo útil.
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