26/06/2014

NUNO COSTA SANTOS

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 Eu cá sou bom

Por aqui, uma pessoa, se é boa naquilo que faz, não tem direito a dizê-lo. “Olha que te fica mal.” “Olha que os outros é que podem dizer isso.” “Olha que ninguém é bom avaliador em causa própria.” 

Ora, um tipo sabe que é talentoso, trabalha que nem um doido para melhorar no seu ofício, e tem de ficar à espera que o vizinho ou o crítico de serviço, de bairro, de jornal ou de Facebook, lhe diga: “Eh pá, tu és do caraças!”? Não me lixem.

Felizmente há os exemplos de Ronaldo e Mourinho – e de outros, noutras áreas, da investigação científica às artes da cozinha – que não têm medo de afirmar “eu cá sou bom”. 

É que há nesta atitude do “não se pode dizer que se é bom” uma generosa hipocrisia. Existe por aí tanta gente com rasgo que labuta para se superar e traz em cada gesto e em cada frase o orgulho de fazer bem. Só não pode, segundo o cânone da junta, afirmar com as palavras todas que transporta qualidades acima da média.

Sabemos que nesta praceta dos unanimismos fáceis os aplausos são escassos para algumas figuras que não se encaixam nos cânones e nas gavetinhas. Muitas vezes é preciso que alguém se chegue à frente no elogio para vir o rebanho dar pancadinhas nas costas.

Quem é bom não precisa de pancadinhas nas costas. Precisa de se esforçar mais para ainda ser melhor.

IN "SÁBADO" 
24/06/14

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