04/06/2014

JOSÉ MANUEL MOROSO

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Dá Deus nozes...

 Falar da Bairrada desperta-me sempre ideias contraditórias. Por um lado, uma região que tem tanto para mostrar e, por outro, tão pouca coisa mostrada… 

Vejamos se me explico melhor. Temos uma região riquíssima e tão pouco publicitada. Já imaginaram o que é ter uma oferta de excelentes produtos como o leitão, o espumante, o vinho, a doçaria e uma costa que se estende da Figueira da Foz até Ovar e não aproveitar este filão para trazer o mundo até cá? Algo devia ser feito para atrair cada vez mais pessoas em busca de um paraíso gastronómico único em Portugal. E não me venham dizer que isto já está a ser feito ou que não há dinheiro para investir. O que talvez não exista mesmo é pessoas que saibam fazê-lo…

Deixado este desabafo, vamos à procura de quem sabe, por exemplo, fazer vinho. E entre os muitos produtores entramos hoje no reino das históricas caves Messias, com sede na Mealhada. Numa jornada gastronómica começámos pelo Espumante Quinta do Valdoeiro Baga & Chardonnay 2011, seguimos para o Quinta do Valdoeiro Chardonnay (que evidenciou mineralidade e a prometer grande longevidade), e chegámos ao Messias Vinha Stª Bárbara 2011, uma incursão das gentes bairradinas num terreno duriense, entre o Douro Superior e o Cima-Corgo, sendo a última quinta desta sub-região. É um tinto feito a partir das castas Touriga Franca e Touriga Nacional que cresceram em solo xistoso, estagiou 18 meses em barricas de carvalho e mostrou-se muito fresco, com notas de chocolate amargo e cacau e muitos frutos silvestres. Mineral e muito elegante leva agora a marca Messias, outrora usada apenas nos Portos desta casa.

Outra novidade que veio para a mesa, esta sim já nada e criada em solo argilo-calcário bairradino e com uma casta que não esconde o seu berço; a Baga. De repente, ao provarmos o Messias Baga Clássico 2010 recordamo-nos da proximidade da Bairrada ao Atlântico e sentimos intensas notas de iodo e salinas. Acidez equilibrada e taninos presentes na boca, teve dois anos a estagiar em barrica, evidencia grande estrutura e promete um grande envelhecimento. Terminámos com um Porto Messias Colheita 1964 e louvámos a terra que o deu e quem o fez!

Mas o que não nos sai da cabeça é haver isto tudo (e muito mais) e não haver engenho nem arte para promover a sério região tão rica. É pena!


IN "SOL"
28/05/14


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