05/06/2014

CÁTIA MIRIAM COSTA

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Ventos Leste

A extrema direita cresceu e mina o seio da União Europeia, juntando a uma crise económica uma crise política, pelos significados implícitos que traz

Para os portugueses, de leste não vêm bons ventos, nem bons casamentos. A associação geográfica direta é Espanha, imortalizada em provérbio. Contudo, o leste é bem mais vasto que Espanha, é todo um continente chamado Europa. Dessa velha Europa chegaram ventos gélidos que arrefeceram a estival primavera portuguesa que prometia fazer esquecer a austeridade. A Extrema-direita cresceu e mina o seio da União Europeia, juntando a uma crise económica uma crise política, pelos significados implícitos que traz.

Preocupados com as situações internas nos seus países, os europeus discutiram assuntos domésticos e pouco se falou da Europa. Menos ainda de como continuar a construí-la. Das ameaças em redor da União Europeia, simplesmente não se falou e a política externa europeia continua em deriva, sujeita a medições de forças entre os Estados-membros.

A leste desta Europa, que tem vindo a perder o norte quanto ao seu próprio rumo, a Ucrânia. País fronteira entre duas formações políticas poderosas, a União Europeia e a Federação da Rússia, enfrenta um conflito interno sem solução à vista. A um problema de feição geopolítica e de (des)entendimento internacional, juntam-se muitos outros que fizeram com que a UE aparecesse como um bloco na sua ação externa, o que tem sido raro. Uma das questões mais importantes é indubitavelmente a energia. A UE é deficitária na produção energética e necessita do gás que vem desses gasodutos. Contudo, a UE parece não entender que a uma problemática energética complexa e a um esgrimir de influências externas sobre o país, existe um conflito civil. E este tipo de contenda não só periga a segurança interna, como a externa (sobretudo, nos países limítrofes). Vai além disso, podendo destruir uma sociedade que hoje apresenta equilíbrios débeis.

Aos portugueses tudo isto parece longínquo, mas a verdade é que terá consequências ao nível europeu, num projeto, no qual Portugal está envolvido. As recentes eleições presidenciais não foram suficientes para resolver o problema. A crise na Ucrânia anuncia novas configurações que chegam de Leste. São necessárias adaptações e gerir bem os ressentimentos do passado, a situação presente e os anseios para o futuro. A ausência de enfoque no tema em Portugal pode justificar-se pela referido distância, contudo é necessário gerar consciência das várias perspetivas sob as quais este conflito pode ser interpretado. A esse propósito realiza-se na próxima quinta-feira o primeiro debate académico alargado sobre o tema, no ISCTE-IUL, onde estarão representadas as partes envolvidas e especialistas em diferentes áreas, numa tentativa de colocar o assunto na agenda nacional. Porque a política externa europeia faz parte da agenda dos portugueses.

Investigadora do Centro de Estudos Internacionais, ISCTE

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
03/06714

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