14/05/2014

MARIA HELENA MAGALHÃES

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Economistas aterrados,
transidos e varados

Portugal não vai sair da troika, mas a troika vai sair de Portugal. E a este trocadilho, seriíssimo, chama-se "saída limpa". Ora toma!
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Um dos livrinhos que tenho na mesinha de cabeceira, para ir debicando ao sabor das ocorrências, é o "Manifesto dos Economistas Aterrados", da autoria de Philipe Askenazy, Thomas Coutrot, André Orléan e Henri Sterdyniak, da associação francesa de economia política, publicado entre nós em 2012, com prefácio e tradução de João Rodrigues e Nuno Serra, co-autores do blogue de economia política "Ladrões de Bicicletas", passe a publicidade.

Feita a identificação da fonte, passo a transcrever o naco de prosa que se segue: " É necessário abrir o espaço das políticas possíveis e colocar em debate propostas alternativas e coerentes, capazes de limitar o poder financeiro e de preparar a harmonização, no quadro do progresso dos sistemas económicos e sociais europeus. (...) À medida que se tornem evidentes as consequências desastrosas das políticas actualmente adoptadas, o debate sobre as alternativas crescerá por toda a Europa. (...) É por isso que nos parece importante esboçar e debater, neste momento, as grandes linhas das políticas económicas alternativas, que tornarão possível esta refundação da construção europeia." Eleições europeias à vista.

Este manifesto foi assinado em Setembro de 2010 e contou com 630 signatários. Todos enganados, viu-se! O futuro encarregar-se-ia de demonstrar que a verdade deles seria trucidada pela mentira limpa dos seus detractores (??!!).

Nessa altura, ainda não tinha entrado em funções o actual governo. Corria o regabofe do executivo anterior e o actual primeiro-ministro, então líder da oposição, insurgia-se denodadamente contra as então já anunciadas medidas de austeridade. A que então se chamava PEC, e de PEC em PEC o torniquete ia rodando, e os portugueses arfando. Coisas do passado.

Hoje, volvidos três anos de troika e da respectiva receita de austeridade, seguida mais do que à risca, Portugal é visto como um caso de sucesso (??!!). Um verdadeiro "case study". A prova provada de que os "economistas aterrados" falharam completamente a sua premonição.

Não que cá dentro não tivéssemos tido também um manifesto de economistas portugueses transidos (de preocupação), que foi acompanhado por um punhado de estrangeiros varados. Só por miopia mental incapazes de aquilatar o sucesso nacional e a dar razão aos franceses aterrados, in illo tempore ! Obviamente, o governo português, timonado por um iluminado coadjuvado por um estadista de gabarito a que se junta, sempre sorridente, uma economista de palmarés, segue o seu rumo, imperturbável. Aplaudido pelos credores, pelos financeiros, pelos parceiros europeus que já se tinham manifestado indisponíveis para mais programas de ajuda financeira - para nós, porque há outros à bica... -, mesmo se desta vez só programa cautelar (que ninguém parece saber ao certo o que é), pelo presidente (ainda) da Comissão Europeia e por outros interessados. Incompreensivelmente (será?), porém, em Portugal, as vozes discordantes persistem.

Do povo nem se fala, queixa-se de que a vida está pela hora da morte, mas é opinião que não conta. O que conta é o voto. Apenas.
Tivessem aqueles "economistas aterrados" imaginado o Portugal de hoje e outro seria o discurso. Dos arautos da desgraça interna não reza a História.
Portugal não vai sair da troika, mas a troika vai sair de Portugal. E a este trocadilho, seriíssimo, chama-se "saída limpa". Ora toma!

IN "I"
09/05/11

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