02/03/2014

EDUARDO OLIVEIRA E SILVA

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Notas soltas

Gaspar e a cadeira de sonho
Vítor Gaspar já tem a sua cadeira de sonho. Como esperado, é numa instância internacional em que os políticos imperam mas se disfarçam de técnicos. Podia ter sido no BCE ou no Banco Mundial, mas obviamente calhou no mais adequado à personagem: o FMI. Lagarde fez saber que Gaspar tinha uma formidável experiência em políticas públicas. É bem verdade, e os portugueses que o digam. Reconheça-se que o perfil é de facto adequado ao FMI, instituição que actua sempre com a mesma receita, independentemente do estado onde aterra. Foi aliás essa rigidez que desgraçou vários países e levou os portugueses a suportarem sacrifícios desnecessários, como hoje se reconhece. Por outro lado, é evidente que a reabilitação pública que Gaspar tentou em livros e jornais foi apenas uma peça da estratégia de uma saída há muito definida. 

A coerência de Cavaco
Uma das características do Presidente da República é a coerência do seu comportamento, independentemente do juízo político que se possa fazer dos seus actos em si mesmos. Por isso não surpreendeu a decisão de não enviar para fiscalização preventiva do Tribunal Constitucional (TC) o Orçamento Rectificativo que integrava a reformulação do imposto a que sibilinamente se deu o nome de contribuição extraordinária de solidariedade (CES). Esta passa a abranger todos os reformados acima de mil euros, que vêem os seus escalões agravados violentamente. Uma vez que contra todas as expectativas a CES já tinha passado uma vez no TC, seria pouco provável e altamente desestabilizador para o tempo final da presença da troika uma atitude radical do Presidente. Por outro lado, era óbvio que os partidos da oposição, designadamente o PS, anunciassem como o fizeram o envio para fiscalização sucessiva do documento. Por isso também não vale a pena perder um segundo sequer a equacionar a possibilidade de o chefe de Estado vetar o rectificativo, embora ainda o possa fazer. 

Um caso estranho
A forma como o general de quatro estrelas Luís Araújo tratou em finais de 2013 da passagem à reforma sem dar cavaco a ninguém tem muito que se lhe diga. Passando sobre o facto de ter sido feita online, certamente para garantir a discrição, há que assinalar que haveria lugar a uma penalização agravada se o pedido fosse feito este ano. Mas há também a estranhar a rapidez com que foi despachada e, talvez o mais grave, o que parece ter sido a total ausência de comunicação formal da intenção, tanto para a hierarquia militar como para a hierarquia política, no caso o governo e o Presidente da República.
Está para se ver se Cavaco vai ou não condecorar o ex-CEMGFA no 10 de Junho, como a sua folha de serviços justifica plenamente. 

Marcelo no seu melhor
O Coliseu rendeu-se a Marcelo no congresso do PSD. Depois de ter enfiado a carapuça e de se ter afastado por causa da moção sibilina de Passos Coelho, o ex-líder mostrou ali que, se pretender candidatar-se ao que quer que seja, mais a mais a um órgão unipessoal como é a presidência, terá o partido a seus pés, com este ou com outro líder qualquer. Há uma afectividade para com Marcelo que não existe com mais ninguém, nem tem paralelo noutro partido. 

O regresso de Relvas
Enquanto fazia o seu running matinal em terras de Vera Cruz, Miguel Relvas era eleito número um da lista de Passos para o conselho nacional, o principal órgão do partido entre congressos. A votação não foi brilhante, mas é tradição a lista apoiada pelo líder do partido ser controversa, exactamente porque quem não a integra fica ressabiado e vota numa das outras que se apresentam. Quanto a Relvas, há um ponto que se lhe deve conceder. Conhece muito bem o partido, os militantes e foi um eficiente secretário-geral. 

IN "i"
01/03/14

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