25/03/2014

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HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"

 Empresário confessa crimes de burla 

Dívidas ao fisco, Segurança Social e tratamentos para uma filha obrigaram a envolvimento em atividade criminosa. 

 Carlos Anjos, ouvido esta terça-feira no julgamento do processo Remédio Santo, que envolve burlas ao Serviço Nacional de Saúde no valor de quatro milhões de euros, confessou os crimes de burla mas recusou a acusação de associação criminosa. 


Carlos Anjos, antigo empresário de uma padaria, casado com a delegada de informação médica Cassilda Dias, outra dos 18 arguidos no processo, admitiu em tribunal que “desde o início que tem consciência do que fez” mas que limitava-se a aviar as receitas em várias farmácias, no norte do país, e a entregar os medicamentos” à mulher. 

“Não conhecia ninguém (os restantes arguidos) nem ninguém me dava ordens. Fazia um trabalho de estafeta, limitava-me a aviar as receitas e a entregar os medicamentos a Cassilda”, afirmou Carlos Anjos. O arguido acrescentou que a mulher entregava depois os medicamentos a Rui Peixoto, outro arguido no processo e ex-delegado de informação médica do laboratório Bial, que os pagava. Carlos Anjos referiu que “recebia uma comissão de 15 por cento” sobre os medicamentos aviados. 

“No início recebia 200, 300 ou 400 euros”, afirmou o arguido, acrescentando que nos últimos três meses o ritmo das entregas intensificou-se e passou a receber mais. Confrontado com registos de pagamentos feitos por Rui Peixoto em valores que variam entre os 4700 euros e os 9670 euros, Carlos Anjos referiu que “metade desses valores tinha de dar à drª Márcia (Araújo) e tinha de tirar cinco por cento”. 

Acrescentou que o dinheiro que recebeu “deu para viver, não para enriquecer nem para comprar casa ou carro”. Carlos Anjos admitiu ter aviado “10 receitas triplas por semana de um medicamento caro” o Seroquel, para a esquizofrenia, cujo preço de venda ao público ascendia a “200 euros”. 

O arguido foi questionado pelo Ministério Público com uma lista de largas dezenas de farmácias, para saber em quais tinha aviado as receitas, prescritas pelos médicos arguidos no processo, a maioria no norte do país. Carlos Anjos referiu ainda que aviou receitas em algumas farmácias em locais onde era fácil estacionar e em muitos estabelecimentos não assinava as receitas. “Acredito que alguns farmacêuticos possam ter assinado depois as receitas”, disse. 

O arguido referiu ainda que praticou tais atos ilícitos porque precisava de dinheiro para pagar dívidas ao fisco, Segurança Social e para pagar tratamentos de uma filha, que nasceu com problemas congénitos. "Uma cadeira de rodas custou mais de cinco mil euros”, referiu Carlos Anjos. A sessão de julgamento continuou com a audição de um ex-delegado de informação médica do laboratório Bial, Fernando Teixeira.

 O arguido afirmou que foi pela “pressão em conseguir os objectivos de venda de medicamentos” que se envolveu na atividade, em particular na venda do medicamento Zenix. “No primeiro ano tínhamos de comprar 30 embalagens, mas no segundo ano aumento para 100 e no terceiro para 200, não era fácil”, afirmou Fernando Teixeira. O arguido continua a ser ouvido amanhã, no Tribunal Criminal de Monsanto. 

* Temos muita pena da filha.


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