01/03/2014

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UM  CÊ  A  MAIS

Quando eu escrevo a palavra acção, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o C na pretensão de me ensinar a nova grafia.


De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua  portuguesa. 


Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio.



Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes CCC's e  PPP's me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância.
Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da  professora:  - não te esqueças de mim!
Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí.
E agora as palavras já nem parecem as mesmas.
O que é ser proativo?
Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos  frangos, que  os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o R, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato.
Caíram hifenes e entraram RRR's que andavam errantes.
É uma união de facto, e  para não errar tenho a obrigação de os  acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a  pena criar uma  linha entre eles, porque já não se entendem.
Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os EEE's passaram a ser gémeos, nenhum usa (^^^) chapéu.
E os meses perderam importância e dignidade; não havia motivo para terem privilégios. Assim, temos janeiro, fevereiro, março, são tão  importantes como peixe, flor, avião.
Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P, algumas palavras são uma  autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos.

Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos.
Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do C não me faça perder a direção, nem me fracione, e nem quero tropeçar em algum  objeto.
Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem  atuante com um C a atrapalhar.
Só não percebo porque é que temos que ser NÓS a alterar a escrita, se....
 A LÍNGUA É NOSSA ...? ! ? !

APLAUSOS AO AUTOR, que não acha que o facto de sermos 1/20 da comunidade lusófona deva pesar nisto; a redacção também não acha!  
 


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