24/02/2014

PEDRO MARQUES LOPES

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Quem não aparece,
esquece

Como previamente anunciaram, os principais opositores ao Governo não estiveram no Congresso do PSD. E, no entanto, a esmagadora maioria dos mais ferozes contestatários à atuação da equipa de Passos Coelho, os que têm sido mais assertivos e certeiros nas críticas, podiam ter-se sentado na sala reservada aos congressistas. Esses senhores e senhoras tinham a possibilidade até de ter feito mais: podiam ter partilhado com os seus companheiros, com aqueles com quem têm afinidades ideológicas, o seu violento descontentamento face à forma como o País e o partido têm sido conduzidos.

Refiro-me, bem entendido, a Manuela Ferreira Leite, Pacheco Pereira, Rui Rio e outros. Gente filiada, com quotas em dia, homens e mulheres que já travaram combates importantes com as pessoas anónimas que ali estavam sentadas. Antigos deputados, antigos líderes da bancada parlamentar, antigos secretários-gerais, personalidades fundamentais na história do partido e mesmo antigos presidentes dos sociais-democratas. E, já se sabe, nenhum deles abandonou a política ativa. Longe disso. Emitem a sua opinião publicamente de forma periódica em tudo o que é órgão de comunicação social - dispenso-me de explicar, por não querer insultar a inteligência de ninguém, que quando algumas dessas pessoas dizem que não estão na política ativa estão a gozar connosco.

Para quê ir ao Congresso, sujeitarem-se a ser assobiados, talvez insultados, quem sabe ameaçados, se podem confortavelmente mandar as suas mensagens por trás duma câmara de televisão, dum microfone de rádio ou das páginas dum jornal aos militantes do PSD? Para quê a maçada, se eles já sabem que o partido está dominado pelo aparelhismo, que há sindicatos de votos , que em parte os grandes partidos se tornaram agências de emprego? Poder-se-ia muito legitimamente perguntar qual a razão para que aqueles senhores e senhoras continuem num partido que, pelos vistos, tanto desprezam e que acham irreformável - convinha que tivessem a coragem de perder eleições internas para poderem falar com propriedade e não estarem constantemente a especular sobre algo não demonstrado. Mas não parece que essa questão se levante ou seja sequer relevante. É aliás fundamental que fiquem. Sem a diversidade de opiniões, tão característica do PSD, o partido definharia muito rapidamente e perderia uma das suas cruciais forças.

E o pior é que estou certo de que não é por falta de coragem que os contestatários à linha oficial não foram ao Congresso: é apenas porque julgam que não vale a pena. E, isso sim, é muito grave. É contribuir fortemente para uma ainda maior deterioração do PSD.

Se estas pessoas com acesso à comunicação social, que já desempenharam os mais altos cargos no PSD e na sociedade, acham que não se deve lutar por um partido melhor (segundo a sua visão), porque é que um cidadão comum social-democrata e com vontade de participar vai aderir ? E como reagirão os militantes que estão em total desacordo com o caminho trilhado por esta direção quando aqueles com quem concordam não comparecem no mais importante momento da vida duma organização partidária e fogem? Desta forma, ainda mais escancaradas estarão as portas para os que procuram a vida partidária como forma de arranjar um emprego ou o utilizam para indecentes tramoias e não como forma de participar ativamente na comunidade e de defender princípios políticos em que acreditam.

Se essas tão relevantes figuras acham, como muitas têm referido, que está a subverter-se a ideologia da organização, a forma como se construíram as ideias, se pensam que o património político está a ser destruído ou mesmo que o PSD está a deixar de ser um partido social-democrata, é olhos nos olhos e em frente aos representantes dos militantes que o tinham de declarar. Era, sobretudo, lá, na reunião magna, que o deviam ter dito ao líder do partido.

Deviam isso aos militantes, deviam isso aos habituais votantes no PSD, deviam isso pelo papel que desempenharam e pelo respeito que, obviamente, têm pela história e memória do partido.
Sim, o PSD está a ser destruído nos seus valores e princípios fundamentais. Sim, o Governo está a conseguir destruir ainda mais o país e a salgar a terra, na feliz adaptação da expressão do militante Pacheco Pereira. Mas conta com a inexcedível colaboração de quem se recusa até a ir ao Congresso do partido, de que se é figura cimeira, denunciar isso mesmo. De quem se recusa a ir a jogo.
É assim que se perde autoridade.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
23/02/14


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