27/02/2014

HELENA GARRIDO

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Desemprego pela vida

São os herdeiros da classe média, que se sacrificou para garantir a ascensão social dos seus filhos. Hoje, muitos deles, estão desempregados ou a saltar de emprego em emprego sem perspectivas de construir uma carreira, um lar e uma família com filhos. 
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É o mais grave problema de Portugal, dos europeus em geral, dos norte- -americanos e dos países que no Norte de África apostaram na educação e formação e hoje não têm emprego para os seus jovens. Do emprego para a vida, chegámos ao desemprego pela vida. Ou para toda a vida, como vai inevitavelmente acontecer a muitos dos jovens que acabaram a sua formação em plena crise das dívidas soberanas e intervenção da troika.

Em Portugal, quase 40% da população activa com idades entre os 15 e os 24 anos está desempregada. Ou seja, e porque só assim constam das estatísticas, declara-se à procura de emprego e disponível para trabalhar. Já foi pior. Está a melhorar. Mas quem olhar para o problema do desemprego dos jovens - como para o desemprego em geral - apenas com a visão curta da evolução das estatísticas a curto prazo não compreende o problema na sua totalidade. E assim não conseguirá perceber os riscos que o país enfrenta.

Os jovens adultos que chegam ao mercado de trabalho em períodos de recessão económica "tendem a considerar que o sucesso individual depende mais da sorte do que do esforço e tendem a apoiar mais as políticas redistributivas do Estado e a ter menos confiança nas instituições". A conclusão é de um estudo de 2009 de Paola Giuliano e Antonio Spilimbergo e o alerta foi feito pelo governador do Banco de Portugal, numa conferência da ACEGE em 25 de Janeiro.

Os desequilíbrios do mercado de trabalho, consequência da crise e do choque tecnológico, são mais um factor que alimenta o agravamento das desigualdades na distribuição do rendimento e que ameaça seriamente a classe média, exactamente aquela que suportou a estabilização das democracias ocidentais.

A edição desta terça-feira, que olha para o desemprego jovem nas suas diversas perspectivas, dá um retrato do que é hoje o mercado de trabalho para os jovens. Empregos há, para quem é qualificado em áreas como a engenharia, tecnologias de informação, gestão, marketing e saúde. E aos jovens não se pede hoje apenas conhecimento puro e duro. É preciso que possuam também aquilo que se designa como ‘soft skills’. Ou seja, capacidades de comunicação, de trabalho em equipa, de relacionamento interpessoal e de resolução de problemas.

Não há empregos para qualificações médias, sejam estas medidas em anos de escolaridade ou em qualidade média. Há empregos pouco qualificados ou muito qualificados.

Com o actual retrato do mercado de trabalho, a resolução do problema do desemprego jovem exige uma intervenção de elevada qualidade das políticas públicas. É preciso actuar nos conteúdos da educação e, especialmente, na formação profissional. Tudo aquilo que o Estado faz mal.

A intervenção dos governos tem sido catastrófica ao nível da formação profissional - nada sabemos sobre os efeitos das verbas europeias. E as políticas que hoje existem limitam-se a distribuir dinheiro ou a reduzir os custos salariais das empresas.

O emprego para a vida deu lugar ao desemprego pela vida fora desde muito jovem. Se este for o futuro, haverá jovens e pais de jovens que não o vão querer aceitar. Quando a classe média, pilar das democracias, se começa a desfazer, o futuro não pode prometer prosperidade e bom senso.

Directora

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
24/02/14


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