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IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
04/02/14
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Jogo de
sombras
A projeção sobre paredes ou telas de linho, de figuras humanas, animais ou objetos recortados e manipulados surge na China por volta de 5000 a.C. Estas práticas ficaram conhecidas como os "jogos de sombra".
Nos tempos modernos, o Governo de Passos Coelho está a procurar
fazer o mesmo com a realidade, projetando os "feitos" económicos e
financeiros da sua política, menorizando o caos social em que deixou boa
parte da população portuguesa. Mais pobre, mais desigual, mais
carenciada.
Portugal está longe de ser o "país das maravilhas" e do "milagre económico" em curso, como alguns insistem em referir.
Entendamo-nos: o equilíbrio das contas públicas - com o défice a
situar-se abaixo do acordado com a troika - deveu-se às receitas
arrecadadas pelo perdão fiscal e pelo permanente garrote, ao nível do
confisco, a que têm sido submetidos os rendimentos do trabalho.
O que se lamenta é que o esforço para recuperar o equilíbrio das contas
públicas não tenha sido igual para todos. Os impostos sobre os capitais
não subiram e foi precisamente quem vive pacatamente do seu trabalho a
pagar (e vai continuar a fazê-lo) as "favas", como se diz na gíria
popular.
Entretanto, os compromissos assumidos com reformados e pensionistas
são rasgados do dia para a noite, sem uma palavra. Os funcionários
públicos são os outros alvos, vistos como uma espécie de malandros
insolentes que não merecem o dinheiro
que ganham, apesar de terem estruturado toda a sua vida dentro de um
quadro que foi o próprio Estado a definir e que agora abandona, como se
retirasse o tapete sem aviso prévio.
O Governo engendrou diversas modalidades de sacrifícios, que se
traduzem em taxas, cortes ou contribuições especiais. A receita final de
IRS, arrecadada no ano que passou, deverá cifrar-se entre os 40 e os 42
por cento. Números tremendos que exemplificam com crueldade os
sacrifícios a que os portugueses têm sido sujeitos. Um ajustamento
brutal. Perante tamanho tratamento de choque difícil seria que o
"doente" não recuperasse os sentidos, só que a terapia foi de tal modo
violenta que as sequelas vão perdurar por muitos e bons anos.
Não tenho dúvidas quando afirmo que o Governo tinha margem para
aliviar a dose de austeridade que ainda quer continuar a aplicar ao
longo de 2014. E só não o faz por mera estratégia partidária, que se
sobrepõe aos interesses e necessidades nacionais. Prova disto são os
mais de 500 milhões de euros consagrados no Orçamento do Estado para
este ano, numa rubrica designada "dotação provisional". O Governo já
amealha para o cenário eleitoral de maio e para a grande aposta, as
legislativas de 2015, onde tudo fará para revalidar o mandato que o povo
português lhe concedeu nas urnas, há quatro anos.
IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
04/02/14
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