10/02/2014

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HOJE NO
  "JORNAL DE NOTÍCIAS"

Ativista angolano Rafael Marques
 acusa generais de ameaças a testemunhas

O ativista angolano Rafael Marques afirmou, esta segunda-feira, à agência Lusa que generais angolanos ameaçaram a família de uma das testemunhas do processo "Diamantes de Sangue", no qual responde por difamação. 

Rafael Marques, autor do livro "Diamantes de Sangue", alvo de um processo em Lisboa movido por nove oficiais angolanos visados pelo trabalho de investigação sobre os direitos humanos na zona diamantífera de Angola, vai apresentar terça-feira em tribunal duas testemunhas com quem viajou desde Angola.

Os cidadãos angolanos Linda Moisés da Rosa e o soba (chefe tradicional) Mwana Capenda, da Lunda Norte, já relataram na passada quinta-feira, numa conferência realizada no Gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa, casos de violentos abusos de direitos humanos que viveram e testemunharam em Angola.
Segundo Rafael Marques, após a conferência em Lisboa o marido de Linda Moisés da Rosa foi "incomodado por militares" na casa onde vive, na Lunda Norte.


"Foram lá para tentar convencer o marido a fazer com que ela não falasse em tribunal. Fizeram pressão direta junto da família", disse Rafael Marques à Lusa, recordando que antes do embarque no aeroporto em Luanda, Linda Moisés da Rosa foi "ameaçada de que se viesse a Portugal seria morta", tendo-lhe sido oferecida a quantia de dez mil dólares para não viajar. 

O ativista afirmou que o responsável pela tentativa de corrupção é "representante de um partido político da oposição" mas que as autoridades angolanas foram cúmplices "quando a tentaram reter no aeroporto".
"Foi um ato institucional das autoridades angolanas e não podem dizer que se trata de um caso isolado de corrupção porque os serviços de emigração, sem razão absolutamente nenhuma, detiveram a senhora e teve de haver um confronto público para que ela fosse libertada", recordou.


Os relatos de Linda Moisés Rosa e do soba Mwana Capenda constam do livro "Diamantes de Sangue", publicado em Portugal.
Rafael Marques disse ainda que além das ameaças contra Linda Moisés da Rosa também o soba, antes da viagem, foi coagido e atacado por um polícia que lhe apontou uma arma de fogo. 

"Ele (Mwana Capenda) vinha com mais dois jovens que desarmaram o polícia. Foram depois entregar a pistola ao Comando da Polícia e agora o soba é que está a ser processado porque se defendeu de um ataque armado", refere Rafael Marques.

A sessão do julgamento sobre o livro "Diamantes de Sangue" está marcada para terça-feira às 11:00 no Campus da Justiça, em Lisboa, com a presença das duas testemunhas, mas Rafael Marques tem como intenção angariar fundos para que em março possam estar presentes novas testemunhas.

"Por carta rogatória, os tribunais em Angola poderão fazer das suas e, por isso, procurarei trazer mais testemunhas a Portugal para que a justiça portuguesa ouça diretamente o que realmente estes generais, as empresas que são pertença dos generais têm estado a fazer", disse. 


Para Rafael Marques, "as coisas não mudaram nada" nas Lundas, porque sempre que se denunciam situações de abusos de direitos humanos na zona dos diamantes, a comunidade internacional "ajuda o governo angolano a mascarar a realidade".

"Tanto é que Angola é vice-presidente do Processo de Kimberley, que é a instituição que determina se os diamantes são de sangue ou se são limpos e Angola preside a isto quando é um dos principais infratores dos direitos humanos no que toca às indústrias extrativas de diamantes", acusou.

* Angola e os seus dirigentes sanguinários, com quem o sr. primeiro-ministro, o sr. vice primeiro-ministro e o sr. ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, têm relações fraternas.



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