07/01/2014

MANUEL TAVARES

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Sempre os seniores

A ideia de que reformados e pensionistas representam um segmento social disponível para a poupança e, por isso mesmo, explorável para gastar não é nova. Antes desta crise se instalar com armas e bagagens (sobretudo armas, diga-se), bancos e seguradoras fartaram-se de vender os chamados serviços para seniores (nova designação dada à terceira idade), designadamente nos campos da saúde, da hospedagem e do lazer. 
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Tanto na esfera pública como na privada, cresceram que nem cogumelos instituições e empresas cujo foco era o de vender o que quer que fosse para tornar a velhice mais saudável, mais aprazível e, numa palavra, mais feliz.

Nesse tempo, que não vai assim tão longe, a economia agradecia porque essas poupanças dos seniores eram libertadas ajudando a criar riqueza e emprego.

Agora, em tempos de vacas magras, em que não conseguimos pagar o que devemos e, pior, a economia deixou de poder garantir a sustentabilidade dos sistemas sociais em que assenta o nosso modelo de sociedade, eis que o Estado, também ele, se volta para os reformados e pensionistas.
Porém, desta vez, não é para tornar reprodutivas as poupanças dos seniores e colocá-las ao serviço da economia e do bem-estar social. 

Desta vez, trata-se de confiscar essas poupanças para garantir a contenção da despesa do Estado e que o défice não sobe acima dos 4 por cento do PIB. Ou seja: parte das pensões e reformas, que eventualmente eram injetadas na economia para felicidade coletiva, é pura e simplesmente subtraída a esse antigo ciclo virtuoso do dinheiro porque o Estado deixa de pagar.

No plano político, que é disso que se trata, tão importantes quanto as medidas em si serão seguramente as razões e os argumentos que possam sustentá-las. Só para dar um exemplo: certamente que todos gostaríamos de ser elucidados quanto às razões que a Irlanda apresentou para sair do seu plano de ajuda financeira e regressar aos mercados com um défice de 4,8 por cento, enquanto nós parecemos agrilhoados a uma previsão de défice de 4 em vez de 4,2, sendo certo que são precisamente essas 2 décimas que vão provocar este suplemento de sacrifício entre os mais velhos.
Em boa verdade, só parece existir uma ideia clara: a de que temos de nos livrar da troika, custe o custar.

Acontece que uma ideia dessas carece de demonstração sobre os benefícios futuros que possa albergar. E não chegam proclamações sobre a soberania financeira recuperada a partir de maio. É preciso que essa soberania possa vir a ser usada politicamente para o melhor bem possível distribuído pela maior maioria possível de portugueses. Ora, nesta perspetiva, tirar aos rendimentos disponíveis dos seniores não parece a melhor ideia para a nossa economia. 

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
04/01/14

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