04/01/2014

HELENA CRISTINA COELHO

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O que (ainda) falta 
para chegar a 2015

Daqui a precisamente um ano estaremos de novo a fazer contas ao que pedimos agora, nestes primeiros dias de 2014, e ao que desejamos que se cumpra no ano que se segue.

É assim todos os anos. Os sonhos são revistos, as metas reavaliadas, as prioridades definidas, os projectos reinventados, os desejos renovados. E a resistência testada - uma vez mais, até ao limite. E assim se arranca para um novo ano, a esperar sempre mais do que no ano que fechou. E esperar mais, num ano como 2014, quer dizer que se espera muito. Há um país inteiro que espera ver a ‘troika' pelas costas daqui a menos de seis meses, que espera ver nessa saída um sinal de que o Estado recuperou o equilíbrio financeiro e pode caminhar nos mercados pelo seu próprio pé e cumprir os seus encargos financeiros sem perder a mão nas suas contas.

Há um país que acredita que a economia vai crescer, pouco, mas ainda assim crescer, porque já tem pouco por onde encolher, que acredita que vai exportar mais e importar menos. Há um país que deseja que os 120 mil empregos líquidos criados no ano que fechou não tenham sido uma miragem e que este ano se continue a criar mais trabalho do que aquele que se destrói. E que o esmagamento salarial, que muito ajudou às margens de lucro de empresas, se inverta e os rendimentos voltem a crescer em vez de minguar. Há um país que gostaria de ver o torniquete dos impostos aliviar, de se livrar da austeridade, de ter um Estado mais eficiente, de destruir proteccionismos injustificados, de acabar de vez com desequilíbrios sociais, de ser poupado a caprichos políticos e instabilidades governativas. Ah... e há ainda um país que sonha regressar do Brasil com um título de campeão mundial nas mãos para reavivar uma auto-estima nacional que anda de rastos.

É isto que o país espera. Mas este não pode ser o retrato de um país à espera. A ‘troika' não nos deixará tão cedo enquanto houver notas de cobrança de milhões para pagar e o país não garantir formas sustentáveis de o fazer - e que vão muito para além de 2015.

A economia não crescerá como se deseja se o consumo esfriar, o investimento fugir ou as exportações arrefecerem - e esses riscos estão todos aí. Os empregos não vão cair do céu, porque dependem de tudo isto e de um mercado onde as empresas possam respirar e pagar menos impostos - e os salários não vão aumentar enquanto a austeridade obrigar a apertar cintos e a fechar carteiras. O Estado continuará obeso e ineficiente enquanto resistir a cortar nos seus próprios abusos (que custam dinheiro), a reduzir os privilégios intocáveis de alguns grupos (que empatam dinheiro) ou a resolver de vez o que é mal gerido (e que perde dinheiro). A inquietação social continuará a minar as empresas, os sindicatos e as ruas se falhar tudo o que se planeia.

E, mesmo no Mundial de Futebol, que ninguém espere vitórias fáceis, se cada um dos jogadores não vestir a camisola, ‘comer a relva' e lembrar-se que não depende apenas de si quando entra em campo. É isso que 2014 vai exigir, se o país quiser chegar ao final do ano com alguns triunfos. Vai ter de trabalhar (mais) por um emprego e um salário, vai ter de investir (mais) para criar mais projectos e ver a economia crescer, vai ter de sofrer (mais) para reformar a gestão do Estado, vai ter de resistir (ainda mais) para sobreviver à austeridade, vai ter de confiar (mais) para saber para que lado deve remar. Daqui a um ano, seria bom estar a fazer contas ao que fizemos e conseguimos - e não ao que esperamos e não aconteceu.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
02/01/14

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