13/01/2014

DINIS DE ABREU

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 O medo às avaliações

É costume nesta época a imprensa dedicar-se, com afinco, aos balanços do ano - na politica, na cultura, no desporto, no lazer -, embora raramente em relação a si própria…

E, no entanto… Alastram as movimentações, os rumores, e já ninguém duvida de que em 2014 haverá empresas de comunicação social a mudarem de mãos, ou, mesmo, de perfil.
Na imprensa, há títulos que envelheceram, sem terem a coragem de se olharem ao espelho, embevecidos com as suas opções editoriais - híbridas ou redutoras -, ligados, por vezes, a minorias influentes, e a projectos que arriscam o futuro por falta de sustentabilidade, na dependência de mecenatos que não duram sempre.

Um dos exercícios mais elucidativos do autismo de várias publicações é observar a forma como iludem as suas fraquezas - procurando escamotear a penosa realidade que é a fuga de leitores e a consequente quebra de vendas -, quando são divulgados os resultados do controlo de tiragens, efectuado pela APCT (a associação responsável pela recolha e tratamento desses dados).
Os jornais e revistas, em declínio de circulação e de vendas, ao desvalorizarem o seu insucesso, lembram os partidos políticos nas noites eleitorais, quando nenhum quer admitir que perdeu…
Não é sério. Mas é assim.

Vivemos uma época de transformações estruturais profundas, com as redes sociais a 'competirem' com os media tradicionais e a contaminarem-nos, a televisão a invadir a net, e as rádios a fazerem pela vida, desdobrando-se em canais temáticos online, privilegiando a música e a informação.
À medida que os equipamentos digitais embaratecem e alcançam uma difusão mais maciça - sejam tablets, smartphones ou ultrabooks -, a imprensa fica mais ameaçada, se não se reconverter.
O papel será substituído, definitivamente, a prazo, pelas versões digitais de jornais e pelos e-books? Em consciência, ninguém saberá prevê-lo.

Nos Estados Unidos, esse enorme laboratório onde se desenham as principais tendências globais, publicações tão respeitáveis como a Newsweek ou The Christian Science Monitor abandonaram praticamente as edições em papel e refugiaram-se online. 

E a recente aquisição do The Washington Post por Jeff Bezos, o génio que fez da Amazon um gigante, apaixonado pela economia digital, não deixará, decerto, sossegados, os jornalistas que há muito se habituaram a conviver com os princípios e os valores defendidos pela família Grahm, que encarava o jornalismo com um espírito quase missionário. O Post vai mudar. E não será uma simples operação de cosmética. 

Por cá, com um mercado de leitores escasso e em debandada para outras paragens - também por culpa de redacções que teimam em produzir jornais sem cuidarem de averiguar o que pensam os seus destinatários -, as perspectivas não são animadoras.

Afinal, para além dos professores, também há jornalistas e gestores de empresas de media que fogem aos testes de avaliação. 

Têm medo de descobrir que imprimem jornais para públicos que já não existem, um erro clássico do umbiguismo ideológico e conceptual que já ditou a morte de vários títulos.
Houve professores que, pateticamente, rasgaram o papel dos testes de avaliação. Oxalá os jornalistas não queiram rasgar o seu… São os meus votos para 2014!

IN "SOL"
07/01/14


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