05/12/2013

SÍLVIA DE OLIVEIRA

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Cortar salários é 
o grau zero 
da gestão

Este sábado tomei uma decisão. Não voltarei mais ao health club que frequentava regularmente e o motivo é muito simples. Não sendo o sítio ideal, tinha bons preços e eu gostava do serviço, mas apercebi-me que os trabalhadores não recebiam os salários, em muitos casos o salário mínimo, a tempo e horas, e que este mês, lhes tinha sido feita uma proposta de pagamento em prestações.

Poderão dizer que a minha atitude ainda poderá piorar um pouco mais o negócio e logo a situação dos trabalhadores. Sim, no limite, se  todos os clientes fizessem o mesmo, o tal health club teria que fechar portas e despejar para o desemprego todos os que lá trabalham.

Mas não é argumento, como não é tolerável aquilo que o presidente do BCP vem dizer. Nuno Amado diz que os salários dos seus trabalhadores serão cortados entre 5% e 10% e que, por isso, será possível salvar, no máximo, 500 postos de trabalho. Esta relação direta e exclusiva não existe. O problema do BCP não está, exclusivamente, nos trabalhadores que, supostamente, tem a mais. O problema do BCP, e de outras empresas, está no excesso de trabalhadores, considerando a atual situação económica, mas também, senão sobretudo, numa série de erros de gestão, passados e presentes.

Confrontar os trabalhadores com esta inexistência de alternativa é o nível zero da gestão. E aquilo que não vejo é os presidentes dos bancos e das empresas, passados e presentes, a assumir erros de gestão. Vejo-os a imputarem culpas e responsabilidades à EBA e aos supervisores, que impõem rácios de capital e de liquidez cada vez mais exigentes, vejo-os a queixarem-se do Estado e da economia, mas nenhum chegar aos jornais e explica o que é que não fez, a tempo e horas, ou simplesmente fez mal, para, agora, ser necessário cortar nos salários dos trabalhadores. Se os cortes salariais se transformaram numa fatalidade foi porque a gestão foi má, muito má.

Longe de mim querer comparar o meu ex-health club com o BCP, muito menos quero apelar ao boicote aos serviços do banco, acima de tudo, porque Nuno Amado é um bom gestor e não será, seguramente, responsável pela maior parte dos erros de gestão praticados no banco que agora lidera. Mas nenhum gestor pode simplificar uma decisão destas assim: ou corto, ou despeço, sem mais nem menos, sem explicações. O que foi feito para evitar o corte dos salários e o que é que correu mal para não conseguir evitar os cortes de salários. Expliquem-se os gestores. 

IN "DINHEIRO VIVO"
05/12/13

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