25/12/2013

PATRÍCIA SUMARES

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Querido Pai Natal

Confesso sentir que o estado da cultura em Portugal é extremamente preocupante e quase inexistente. Fico muito preocupada com tanta falta de visão por parte dos nossos governantes quando dizem que vão reduzir dez milhões de euros no novo orçamento de Estado para esta tão importante área que não se resume única e exclusivamente ao entretenimento. A cultura é mais do que isso, é a alma de um povo. Sem cultura não há identidade nem sonhos e sem sonhos não há desenvolvimento e progresso.

No final do mês de novembro foi notícia nos vários meios de comunicação social da Madeira que a FNAC abriu as suas portas à meia noite e vendeu dezenas de consolas cujo valor de mercado rondava os quatrocentos euros. É claro que as pessoas são livres e têm o direito de gastar o dinheiro como bem o entendem mas é um assunto que merece alguns reparos quando se fala tanto da crise e do empobrecimento de muitas famílias na região e em Portugal.

Sabemos que o empobrecimento de um país resulta sempre de uma má gestão e valorização da sua cultura. A Madeira não é exceção à regra e há cada vez mais famílias a consumirem menos bens culturais como um bom livro, uma criação artística, ou simplesmente uma ida ao cinema, ao teatro ou a uma exposição, etc.

O discurso político muito tem contribuído para o desinvestimento nesta área, pois defendem que a prioridade nestes tempos de aflição é só matar a fome, quando deveriam também defender e valorizar a cultura como forma de investimento e de desenvolvimento da nossa sociedade.

Assim verifico a falta de hábitos culturais resultante desta desorganização e má gestão dos vários espaços públicos, da falta de visão a longo prazo, da falta de definição de prioridades e de critérios, da falta de valorização dos cargos de chefia com pessoas com formação especifica e competentes.
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Causa-me profunda perplexidade ao verificar que os criadores que residem na ilha continuam isolados do mundo mesmo tendo ao seu alcance as novas tecnologias de informação e comunicação porque continuamos sozinhos. Somos um povo hospitaleiro e sabemos receber, mas em contrapartida não sabemos valorizar aquilo que é nosso. Os lobbies culturais gostam de importar, mas não sabem exportar o que de melhor temos pois regem - se pelo compadrio.

Sabemos que é importante mudar mentalidades e sabemos que para as mudar é urgente contar com a nova geração responsável.

Por isso peço-te Pai Natal que tragas bons hábitos culturais por forma a valorizarmos aquilo que realmente merece a nossa estima para as gerações futuras.
Obrigada e Boas Festas!

Professora


IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
23/12/13


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