28/12/2013

MIGUEL LUZÁRRAGA

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O que podem esperar 
os investidores em 2014?


À medida que o ano de 2013 se aproxima do fim, os investidores começam a encarar o Ano Novo com um misto de entusiasmo e apreensão. O entusiasmo advém de uma conjuntura mais favorável ao crescimento económico na Europa e nos Estados Unidos e da melhoria das perspectivas de crescimento dos lucros das empresas, que deverá sustentar os mercados de acções dos países desenvolvidos. A apreensão radica, de forma igualmente importante, nas preocupações sobre a forma como os mercados de obrigações irão reagir quando a Reserva Federal decidir reduzir o seu programa de flexibilização quantitativa.

Atendendo a estes factores, David Lebovitz, Estratego de Mercado Global da JP Morgan Asset Management, analisa os principais temas de investimento que os investidores deverão considerar nas suas estratégias para 2014.

A rentabilidade das obrigações vai continuar a subir
Um assunto que, muito provavelmente, irá transitar de 2013 tem que ver com o aumento gradual das taxas de juro a longo prazo e com a necessidade de obter rendimentos de outras fontes que não as obrigações de elevada qualidade a longo prazo.

Ao longo de 2013, os investidores têm especulado sobre a altura em que a Reserva Federal poderá começar a descontinuar progressivamente as compras de obrigações. Na altura em que estamos a escrever este artigo, o processo ainda não teve início. No entanto, as rentabilidades dos títulos do Tesouro a 10 anos são cerca de 1% superiores às que se verificavam no início de 2013. Apesar disso, continuam muito baixas em termos históricos e poderão muito bem apresentar um valor semelhante em 2014, à medida que a Reserva Federal for reduzindo as compras de obrigações, acompanhando o ritmo de consolidação da economia dos Estados Unidos.

Quer isto dizer que os investidores poderão preferir manter uma posição subponderada de rendimento fixo na sua alocação estratégica a longo prazo e privilegiar as obrigações de curto prazo em detrimento das de longo prazo. Poderão igualmente preferir privilegiar sectores dos mercados de crédito, tais como o elevado rendimento, dado que o maior valor do cupão destes títulos deverá ajudar a compensar as quedas de preços devidas ao aumento das taxas de juro.

Ligeira aceleração do crescimento dos Estados Unidos
Outro assunto que deverá transitar para 2014 tem que ver com uma posição sobreponderada em acções norte-americanas. Continua a haver sérias perspectivas de crescimento dos lucros, melhorou o panorama relativo ao crescimento económico, e diminuíram muitos "riscos de cauda", como a turbulência orçamental dos Estados Unidos, as tensões no Oriente Médio e os problemas da Zona Euro. No entanto, um forte ganho de dois dígitos das acções norte-americanas em 2013 significa que o mercado deixou de ser barato em termos absolutos, e é provável que consiga propiciar retornos médios anuais de apenas um dígito ao longo dos próximos anos.

A economia dos Estados Unidos deverá apresentar em 2014 um crescimento ligeiramente superior ao de 2013, traduzido num aumento do PIB entre 2,5% e 3,0%, devido a: (1) diminuição das restrições orçamentais; (2) significativas restrições na procura de automóveis, imobiliário e equipamentos empresariais; (3) desfasamento entre o aumento da riqueza e o seu efeito no consumo privado; e (4) papel do fortalecimento da economia global no estímulo às exportações norte-americanas. Esta maior dinâmica económica deverá continuar a fazer baixar a taxa de desemprego, a qual, por sua vez, deverá levar a Reserva Federal a descontinuar totalmente as compras de obrigações em 2014, embora de forma progressiva.

Estamos em crer que o défice do orçamento federal irá cair de 4,1% do PIB, valor apresentado no ano fiscal de 2013, para cerca de 3,3% do PIB no ano fiscal de 2014, reflectindo o impacto do aumento das taxas de juro verificado em Janeiro deste ano, bem como o forte rendimento dos investimentos. Embora isso signifique que a economia dos Estados Unidos ainda estará a braços com certas restrições orçamentais, o seu impacto não deverá ser tão significativo como em anos anteriores. Não prevemos acordos políticos de grande relevância, dado que Washington estará com as baterias apontadas para as eleições intercalares a realizar em 2014.

A Europa deverá continuar a melhorar
Apesar de a taxa de desemprego da Zona Euro se manter acima dos 12%, a região parece ter saído da recessão e apresenta agora um crescimento económico ligeiramente positivo, que, a nosso ver, poderá aumentar. Esta evolução poderá representar uma importante oportunidade de investimento. As bolsas europeias estão mais baratas com base nos ganhos actuais do que as norte-americanas, e os lucros poderão ter maior potencial de crescimento do que nos Estados Unidos, pois a Europa tem mais espaço para crescer antes de chegar a uma situação de pleno emprego.

Os investidores deverão observar o comportamento do Banco Central Europeu (BCE), enquanto este mantiver a extrema flexibilidade da sua política monetária. O BCE reduziu as taxas de juro em Novembro, e os investidores começam a interrogar-se quais serão as próximas medidas do banco central para tentar estimular o crescimento económico e conter a queda da inflação.

Os mercados emergentes continuam atraentes
À medida que aumenta a procura agregada de curto prazo na economia global, os investidores poderão apontar baterias para as regiões do mundo dotadas de maior potencial de crescimento económico a longo prazo. A resposta reside claramente nos mercados emergentes, sobretudo fora da China. Embora o crescimento estrutural a longo prazo continue a ser uma realidade, será importante mantermo-nos conscientes das adversidades económicas e políticas que essas economias em desenvolvimento terão de enfrentar no próximo ano.

As negociações com o Irão poderão ser positivas, mas atenção à China
Qualquer progresso nas relações entre os Estados Unidos e o Irão teria um efeito positivo inesperado nos mercados. Embora o regime iraniano não tenha mudado com a eleição de Hassan Rouhani, parece evidente que o povo e o governo iranianos gostariam de encontrar uma forma de intermediar algum tipo de acordo nuclear que resultasse no levantamento das sanções. Um acordo deste género, caso fosse alcançado, poderia reduzir as tensões no Oriente Médio e aumentar a oferta mundial de petróleo, de que resultaria uma importante redução de impostos, devido à queda dos preços dos combustíveis.

A China, no entanto, poderá perturbar os mercados. Até ao momento, o governo chinês não foi capaz de conter uma forte onda de especulação imobiliária nem o aumento da dívida de particulares e empresas. Embora as reformas estabelecidas durante o Terceiro Pleno constituam um bom começo para alcançar a estabilidade económica a longo prazo, a um eventual fracasso na sua implementação poderia seguir-se uma crise financeira no seio da própria China.


Senior Sales Executive do JPMorganAM

 IN  "JORNAL DE NEGÓCIOS"
23/12/13

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