09/12/2013

CASSILDA TEIXEIRA PASCOAL

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Prostituição: 
legalização a 
caminho da abolição

Todas as páginas deste jornal não seriam suficientes o tanto que há para debater sobre a prostituição. Com este texto pretendo apenas contribuir com algumas ideias, e desafiar a uma discussão sobre prostituição sem preconceitos nem moralismos.

Conhecemos vários tipos de prostituição, de rua, de bordéis, de luxo, homossexual, transexual, infantil, etc, cada uma com especificidades próprias mas com um lugar comum: a violência múltipla imposta a quem se prostitui. 

Como forma de evitar debater o assunto aprofundadamente, nos últimos tempos  fez-se passar a ideia de que a prostituição é uma escolha. Pode ser para uma minoria, mas para a larguíssima maioria ela é apenas uma consequência de inúmeros problemas sociais. E se os problemas são sociais compete-nos a todos e todas nós combatê-los. 

A prostituição, em alguns casos, pode ser uma escolha livre, mas é amplamente consequência da pobreza e da exclusão social, é consequência da discriminação de género ou com base na orientação sexual, é consequência do tráfico de seres humanos, é consequência da exploração humana, é consequência da ocupação de territórios como zonas de guerras, é consequência da megalómana industria do sexo, é consequência da cultura machista que olha para a mulher, e para todas as outras minorias como objetos ao serviço do homem-branco-heterossexual, e é agravada, tal como outros problemas, pelo sistema capitalista e pelo neoliberalismo a que assistimos hoje.

Combater a prostituição de base (diferente de combater quem se prostitui) só me parece possível se for feito de forma radical, i.e. pela raiz,  combatendo as suas causas, ou ainda por outras palavras: construir mundos onde só se prostitua quem assim decidir livremente e onde haja a garantia de que ninguém é empurrado/a para mercados alimentados pela violência sexual, física, emocional, social ou económica, para poder sobreviver. Soa a utopia? Pois bem, são as utopias de que nos fazem caminhar.

Mas enquanto sonhamos e não desistimos de construir esse outro mundo, a prostituição está aí. Está em todo o lado, e a fervilhar de clientes de todas as classes sociais - pessoas que têm de pagar para terem sexo. E quando estes clientes - que não são criminalizados nem mesmo quando cometem qualquer tipo de agressão e/ou crime - procuram a prostituição, ela deve também ser encarada como serviços sexuais. Trabalho.

Quem se prostitui, quem presta serviços sexuais, está vulnerável e desprotegido/a à mercê de todas as formas de violência institucional, social e individual. É também por isso que, sem deixar de lado o trabalho de base, é urgente proteger essas pessoas, é necessário dar-lhes direitos laborais e proteção social. 

A ilegalidade só tem servido para reforçar preconceitos e estigmas, discriminar ainda mais quem já é marginalizado/a, e ao mesmo tempo continuar a desculpabilizar a clientela e os proxenetas.

É preciso olhar para as experiências de legalização noutros países, perceber o seu contexto e aprender com os poucos sucessos e os muitos erros.

É importante que qualquer tentativa de regulamentação não deixe margem para nenhuma forma de exploração. É urgente debater o assunto, e agora!

Talvez seja um bom começo despirmo-nos de moralismos e conservadorismos, e olharmos para as pessoas que se prostituem como seres humanos - sujeitos políticos e sociais dotados de vivências, pensamentos, demandas e voz – e ouvi-las. 

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
05/12/13

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