Samsung, Longines,
BIG, C&A,
Rádio Popular
Por vezes, os slogans e outras frases
publicitárias parecem aquelas lições de moral e filosofia barata com que
nos enchem o mural do Facebook às sextas-feiras. Não sei porque é mais
às sextas-feiras, mas é. São frases banais atribuídas falsamente a
Einstein ou qualquer outro nome conhecido com celebridade legitimada por
serem medianamente conhecidos como génios.
São frases que dizem as maiores
banalidades sobre o amor, as relações humanas e de poder, a inteligência
e as qualidades essenciais do comportamento e do modo de vida, mas que,
coladas a uma foto de um génio, parecem verdadeiras.
Sem
nada mais para dizer, e parecendo que a roda já não se pode inventar
(ai não, que não pode!), os publicitários agarram-se a frases do género
moralista do Facebook. Transmitem-nos modos e estilos de vida sem
qualquer relação com o produto ou o serviço vendido. São tantas... que
pena eu não ter guardado as maiores pérolas da banalidade estratosférica
da publicidade! Agora só me aparecem exemplos medianos, como o slogan
em inglês "Design your life", traduzido pelos publicitários da Samsung
para "Projecte a sua vida". É coisa de um Epicuro da Avenida Madison ou
coisa do género. Os relógios Longines ensinam-nos, também em inglês
traduzido para a margem do reclame: "A elegância é uma atitude." Será
inspirado em Oscar Facebook Wilde?
O Banco BIG
aproxima-se mais das frases com gatinhos: "Quando temos alguém do nosso
lado a vida fica sempre melhor". Se o leitor esperaria a frase ilustrada
com um pôr-do-sol de praia, facebookiano... acertou! A fotografia
mostra um filho mimando o pai na cara, em contraluz... Comovi-me.
Perante
tanta sabedoria à Paulo Coelho, dá gosto ver um anúncio como o da
Prada, mostrando apenas, em grande plano um par de sapatos masculinos — e
mais nada. Só os sapatos negros a brilhar de tão engraxados e a palavra
de cinco letras, Prada. Há publicitários (e anunciantes) que acreditam
no poder da imagem, nas imagens que transmitem afirmativamente a
mensagem que querem transmitir, sem necessitarem de frases bacocas
destinadas a chamar os leitores para dentro do anúncio... por falta de
coragem em aceitar que a foto é suficientemente forte para transmitir a
mensagem.
No nosso mundo tão cheio de palavras, bem
poderiam prescindir de banalidades e optar antes por escolher a melhor
imagem possível. Ou então fazer como a C&A, que anuncia um grande
desconto gritando em letras vermelhas "Fora o IVA!" e gritando ainda
mais alto em letras ainda garrafais "-23%".
Melhor
ainda, a Rádio Popular entrou em registo de "desbunda". O anúncio desta
cadeia de lojas de electrodomésticos chama a si a popularidade de
protestos do último ano e do seu slogan "Que se lixe a troika!" para
avançar com a palavra-de-ordem "Que se lixe o IVA!". A mensagem é
devidamente transportada num cartaz nas mãos de um jovem "manifestante"
de boca aberta, como se estivesse a gritar o slogan. Não se fica por
aqui o anúncio. Tem um desenlace, depois de explicado o desconto "igual
ao IVA": "E se a Troika quiser ficar chateada, que se lixe!"
São
anúncios que recorrem à linguagem política das ruas com pontos de
exclamação, adaptando-se aos tempos que correm, mas transformando o
protesto em convite ao consumo. Em qualquer caso, cumprem a missão sem
recorrer a paulo-coelhadas de pacotilha, pseudo-sofisticadas, antes
usando uma linguagem vernácula, popular, que dá qualidade a anúncios
despretenciosos.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
30/10/13
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