06/11/2013

EDUARDO CINTRA TORRES

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Samsung, Longines, 
BIG, C&A, 
Rádio Popular 

Por vezes, os slogans e outras frases publicitárias parecem aquelas lições de moral e filosofia barata com que nos enchem o mural do Facebook às sextas-feiras. Não sei porque é mais às sextas-feiras, mas é. São frases banais atribuídas falsamente a Einstein ou qualquer outro nome conhecido com celebridade legitimada por serem medianamente conhecidos como génios.
São frases que dizem as maiores banalidades sobre o amor, as relações humanas e de poder, a inteligência e as qualidades essenciais do comportamento e do modo de vida, mas que, coladas a uma foto de um génio, parecem verdadeiras.

Sem nada mais para dizer, e parecendo que a roda já não se pode inventar (ai não, que não pode!), os publicitários agarram-se a frases do género moralista do Facebook. Transmitem-nos modos e estilos de vida sem qualquer relação com o produto ou o serviço vendido. São tantas... que pena eu não ter guardado as maiores pérolas da banalidade estratosférica da publicidade! Agora só me aparecem exemplos medianos, como o slogan em inglês "Design your life", traduzido pelos publicitários da Samsung para "Projecte a sua vida". É coisa de um Epicuro da Avenida Madison ou coisa do género. Os relógios Longines ensinam-nos, também em inglês traduzido para a margem do reclame: "A elegância é uma atitude." Será inspirado em Oscar Facebook Wilde?

O Banco BIG aproxima-se mais das frases com gatinhos: "Quando temos alguém do nosso lado a vida fica sempre melhor". Se o leitor esperaria a frase ilustrada com um pôr-do-sol de praia, facebookiano... acertou! A fotografia mostra um filho mimando o pai na cara, em contraluz... Comovi-me.

Perante tanta sabedoria à Paulo Coelho, dá gosto ver um anúncio como o da Prada, mostrando apenas, em grande plano um par de sapatos masculinos — e mais nada. Só os sapatos negros a brilhar de tão engraxados e a palavra de cinco letras, Prada. Há publicitários (e anunciantes) que acreditam no poder da imagem, nas imagens que transmitem afirmativamente a mensagem que querem transmitir, sem necessitarem de frases bacocas destinadas a chamar os leitores para dentro do anúncio... por falta de coragem em aceitar que a foto é suficientemente forte para transmitir a mensagem.

No nosso mundo tão cheio de palavras, bem poderiam prescindir de banalidades e optar antes por escolher a melhor imagem possível. Ou então fazer como a C&A, que anuncia um grande desconto gritando em letras vermelhas "Fora o IVA!" e gritando ainda mais alto em letras ainda garrafais "-23%".

Melhor ainda, a Rádio Popular entrou em registo de "desbunda". O anúncio desta cadeia de lojas de electrodomésticos chama a si a popularidade de protestos do último ano e do seu slogan "Que se lixe a troika!" para avançar com a palavra-de-ordem "Que se lixe o IVA!". A mensagem é devidamente transportada num cartaz nas mãos de um jovem "manifestante" de boca aberta, como se estivesse a gritar o slogan. Não se fica por aqui o anúncio. Tem um desenlace, depois de explicado o desconto "igual ao IVA": "E se a Troika quiser ficar chateada, que se lixe!"

São anúncios que recorrem à linguagem política das ruas com pontos de exclamação, adaptando-se aos tempos que correm, mas transformando o protesto em convite ao consumo. Em qualquer caso, cumprem a missão sem recorrer a paulo-coelhadas de pacotilha, pseudo-sofisticadas, antes usando uma linguagem vernácula, popular, que dá qualidade a anúncios despretenciosos.

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
30/10/13

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