12/10/2013

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HOJE NO
" DIÁRIO DE NOTÍCIAS"

Virginia López diz que é preciso
. reivindicar mais justiça

A jornalista espanhola Virginia López, autora do livro "Impunidade", sobre os "escândalos" que a Justiça portuguesa deixou prescrever ou não resolveu, disse que os cidadãos têm de ser mais reivindicativos.

"O espanhol é muito mais reivindicativo que o português e se calhar o português tem de ser mais reivindicativo com a democracia e com a Justiça e exigir (...). Se os 40 anos que passaram tiveram estes 15 grandes escândalos e que tiveram este desfecho, têm de pensar como vão ser os próximos 40 anos de democracia em Portugal", disse à Lusa a correspondente do jornal El Mundo e da Cadena Ser em Portugal, onde reside há mais de dez anos.

O livro "Impunidade" reúne 15 grandes casos mediáticos desde a década de 1980 até 2013.
O livro recorda os casos Camarate; Fax de Macau; Hemofílicos de Évora; Saco Azul (Fátima Felgueiras); Moderna; Casa Pia; Freeport; Apito Dourado; Portucale; Isaltino de Morais; Sócrates-Independente/Relvas-Lusófona; Submarinos; Operação Furacão; BPN e Face Oculta.

"A ideia fundamental do livro é compilar os casos com a perspetiva de alguém que os vê de fora. Alguns, acompanhei-os como jornalista, outros não, porque ainda não vivia em Portugal. No fundo, quis recordar e fazer o trabalho de casa para quem lê o livro", afirmou a jornalista. 

Viginia López sublinhou que em Portugal "a memória é curta em relação à Justiça" e que, por isso, os diversos casos não devem cair no esquecimento, destacando o caso dos 150 hemofílicos contaminados com o vírus da SIDA (página 55) e que "atingiu a ex-ministra da Saúde Leonor Beleza".
"O caso dos hemofílicos impressiona-me por ser um drama. Já estamos muito habituados em ouvir falar de evasão fiscal, offshores, fraudes, tráfico de influências, mas o caso dos hemofílicos impressionou-me, porque os crimes têm quase todos alegadamente que ver com dinheiro. No caso dos hemofílicos perdemos vidas e o caso prescreveu. Quem perde é a democracia, porque se a democracia é para melhorar a vida das pessoas falhou completamente", referiu Virginia López.
"Mais recentemente impressiona-me a lentidão. Por exemplo, o caso dos Submarinos. Temos a Alemanha, porque era uma empresa alemã, e na Alemanha houve uma resolução e em Portugal não há resolução e depois ouvimos as explicações do Ministério Público a dizer que não tem meios para investigar e isso é o que mais me custa", afirmou a correspondente do El Mundo.

No caso dos Submarinos (página 214) a autora refere que o que se torna efetivamente necessário esclarecer é se por detrás do contrato assinado pelo então ministro da Defesa durante o Governo de José Manuel Durão Barroso, Paulo Portas, existiu algum tipo de situação menos clara, leia-se "'alegados subornos, corrupção ou contrapartidas falsas'". 

Destacando a importância da imprensa, Virgina López afirmou que em Portugal os casos começam por ser muito escandalosos quando aparecem na comunicação social, "os portugueses levam as mãos à cabeça" e "comenta-se tudo nos cafés".

"Depois há arguidos, o Ministério Público faz acusações, há julgamentos e, no fim, algumas vezes, acaba-se em absolvição ou em prescrição ou em pena suspensa, ou em falta de prova", disse a jornalista, que na conclusão do livro "Impunidade" (página 265) sublinha aquilo que diz ser o sentimento dos cidadãos em relação à Justiça.

"Os portugueses ao longo da democracia, foram testemunhas de tantos escândalos relacionados com políticos que são cada vez mais desconfiados, colocando todos no mesmo saco, convencidos que os políticos, façam o que fizerem, são intocáveis e que a justiça não é para eles ...".

O livro "Impunidade" (editora Esfera dos Livros, 301 páginas) vai ser apresentado em Lisboa, na quarta-feira.

* Um livro para ler sobre a amarga justiça portuguesa

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