28/10/2013

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HOJE NO
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Há aspectos “mais sofisticados” na
. violência das classes mais altas

Denúncia de violência contra Manuel Maria Carrilho abriu o debate. Especialistas falam de “maior vergonha” devido ao “estatuto”

Os especialistas são unânimes: há mais casos de violência doméstica nas classes mais altas do que as pessoas julgam. A ideia de que a troca de agressões físicas ou psicológicas dentro de uma relação só acontece entre os mais pobres e desfavorecidos é apenas um mito.

Primeiro, surgiu a notícia de que Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho, casados há 11 anos, estariam separados. Depois, a justificação dela, exposta numa queixa-crime enviada para o Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa: há seis meses que era vítima de violência continuada por parte do marido. E logo de seguida, as acusações dele: a apresentadora de televisão estava “sistematicamente alcoolizada”, tinha entrado na “depressão dos 40” e era um “perigo para os filhos”.

As notícias de agressões a envolver um dos casais tidos como mais estáveis entre os casais de figuras públicas portuguesas, encheram os jornais e lançaram a questão: como poderá isto ter acontecido na casa de uma conhecida apresentadora de televisão e um ex-ministro da Cultura e professor catedrático?

José Rebelo, professor  na Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação de Coimbra, explica que a violência doméstica pode assumir “aspectos mais directos” nas classes mais baixas, mas “não é exclusiva” delas. “Há outros aspectos da violência, talvez mais sofisticados, que acabam por se manifestar nessas classes sociais mais privilegiadas”, diz o psicólogo, acrescentando que a própria visibilidade pública do casal pode conduzir a crises ou episódios de agressões. “As divergências podem resultar de diferenças de projecto social ou diferenças na forma como se apresentam no espaço público.”

João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), confirma pelos dados da associação que “a violência doméstica é transversal à sociedade”. E embora sejam as vítimas com mais necessidades económicas as que mais recorrem aos serviços da APAV, “por serem gratuitos”, também há excepções. “A APAVtambém apoia muitas mulheres que vêm de classes mais favorecidas.”

Só que aqui, a própria forma como é feito o pedido de ajuda muda. “Normalmente o contacto é por telefone. Há muita ligação ao estatuto, muita vergonha, receio de ser reconhecido ou que se saiba”, explica João Lázaro, adiantando, no entanto, que “há menos vergonha do que havia antes”. O progresso, julga o presidente da APAV, também terá sido em parte motivado por exemplos de pessoas com mais visibilidade pública, como aconteceu no caso da então presidente da câmara de Rio Maior, Isaura Morais, que em 2010 denunciava o companheiro por violência doméstica.

Entre as “celebridades”, contam-se os casos de Margarida Marante, Margarida Santana Lopes (irmã do ex-primeiro--ministro ou Catarina Fortunato de Almeida (ex-mulher de Tallon). 

Estatísticas da APAV mostram que a maior parte das pessoas adultas vítimas de crime em 2012 eram licenciadas: 39,4% delas encontravam-se empregadas, tendo como principal meio de vida os rendimentos do seu trabalho (34,2%).

* No caso deste casal mediático, que até há pouco irradiava felicidade, seria mais prudente a discrição, os filhos não beneficiam com esta lavagem de roupa suja.

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