10/10/2013

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HOJE NO
" RECORD"

Mário Santos: 
«Não saio por incompatibilidade»

Mário Santos admitiu esta quinta-feira que voltará ao dirigismo desportivo "assim que tenha disponibilidade", reiterando a sua vontade de "servir" a canoagem e o desporto português, nos quais nunca foi remunerado em nove anos em distintas funções.

"As realidades vão-se alterando. Não vou fazer prognósticos, mas estou certo de que, assim que tenha disponibilidade, irei voltar ao desporto, sempre por via da canoagem, a minha segunda casa. Estarei disponível. Não estou para cumprir ambição pessoal, mas, dentro do possível, servir", disse o dirigente à agência Lusa. 

Um dia após ter anunciado que vai deixar a presidência da federação de canoagem, a vice-presidência do Comité Olímpico de Portugal e a chefia de missão portuguesa ao Rio'2016, Mário Santos admite "muita mágoa, mas também coerência" por ter de abdicar de funções, revelando que o desporto lhe devolveu "em dobro" tudo o que fez por ele.

"Não era isto que queria ou ambicionava, mas a vida é feita de decisões difíceis e esta é das mais difíceis que tive de tomar", explicou, após justificar a sua saída com "incompatibilidade das exigências crescentes" com a sua "vida pessoal e profissional". "Nunca vou deixar o desporto, nem que seja como praticante. Exerço-o com paixão e sem qualquer tipo de desgaste. Veremos o que o futuro vai proporcionar. Aprendi a não dizer nunca. Não saio por incompatibilidade com a modalidade, mas por questões pessoais. Não saio com remorsos ou pedra no sapato, pelo contrário. Foi uma decisão ponderada com a qual já venho a debater-me e a lidar há alguns meses", revelou.

Mário Santos refuta qualquer desgaste adicional pelos casos de Fernando Pimenta e Teresa Portela - por motivos distintos, recusaram-se a representar a seleção nos mundiais - considerando-os "normais na vida desportiva". "Foi um momento menos bom da canoagem, mas temos de os encarar com naturalidade. Teve impacto devido aos resultados e mediatismo da canoagem. Fiquei triste por ter chegado a esse limite, mas tudo o que envolve as duas situações é normal no desporto. Lido com naturalidade, mas era melhor que não tivessem acontecido", admite, considerando que "os atletas foram quem mais perdeu".

Mário Santos afiança que a modalidade pouco sofreu com estas ausências e acrescenta que "as 13 medalhas obtidas este ano, entre Europeus e Mundiais, demonstram que o caminho da canoagem é o correto, bem como as opções tomadas", sublinhando que "o sucesso é fruto do trabalho de muita gente e grande superação de todos". "Deu-se muito mais tempo de antena ao caso Fernando Pimenta do que à valorização da essência do desporto e dos nossos muitos êxitos. Isso só demonstra que ainda temos um longo caminho a percorrer para que se valorize o que é o alto rendimento", frisou, lembrando que Emanuel Silva até tem "melhor currículo e mal foi ouvido neste processo".

"COP tem equipa alargada, competente e experiente"

Mário Santos recusou a ideia de que a sua saída do COP enfraqueça a capacidade da instituição, enaltecendo a "equipa alargada, competente e experiente" do organismo.

"Esta decisão não me agrada nem aos muitos que comigo trabalharam, mas o COP tem uma equipa alargada, com pessoas competentes e experientes na qual era apenas mais um. Estou certo de que sobra competência para que a resposta seja dada. Por não estar presente formalmente, não deixo de estar disponível em tarefas para as quais possa ajudar", disse à agência Lusa.

Mário Santos mostra-se "disponível" para ajudar a encontrar a "melhor solução" para preparar os Jogos Olímpicos e defende a profissionalização do seu sucessor. "Deve ter organização, ser um líder e ter disponibilidade. O exercício da chefia de missão em sucessivas organizações e competições assim o obriga. É uma tarefa cada vez mais executiva, que obriga a aquisição conhecimentos e disponibilidade e que, como em muitos países, é realizada por um profissional", elucidou.

O dirigente promete "todo o auxílio exequível": "Tentarei transmitir a minha experiência e ajudar no que possa ser possível, uma vez que entendo que é minha obrigação contribuir, já que a experiência que adquiri é uma mais-valia que não quero guardar para mim".

Mário Santos defende que o COP tem estado a "evoluir" nestes seis meses de mandato sob a liderança de José Manuel Constantino, mas adverte que "não é fácil concretizar grandes mudanças". "Há um caminho a trilhar, mas não é fácil concretizar grandes mudanças, pois obriga a alterações estruturais, com custos, também financeiros, com os quais é difícil batermo-nos. O caminho precisa de passos que estão a ser dados", considerou.

O ex-dirigente também sossega os canoístas que revelaram apreensão pela sua saída, relembrando-lhes que "são fortes e sabem que muito do sucesso da sua carreira desportiva individual depende eles", recordando as 76 medalhas em Europeus e Mundiais conquistadas sob a sua égide por "dezenas de atletas".

Mário Santos demarca-se da seleção do futuro presidente afirmando que "a modalidade vai escolher", mas deixa o alerta: "É consensual que o rigor, definição de objetivos e trabalho humilde e sem deslumbramento é o caminho a seguir e nunca esquecendo a história da canoagem, em que facilitismo e atalhos nos levaram ao insucesso".

"A canoagem portuguesa é o exemplo de que é possível fazer muito com pouco. Exemplo que os portugueses podem ter capacidade de superação nos momentos certos. Conseguimos ser bons, os melhores. Que muitos consigam fazer isso nas suas vertentes na vida", concluiu. 

* Faz falta.

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