12/09/2013

MANUELA PARENTE

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O carro da bomba

Todas as palavras, todos os elogios são escassos e incompletos. Se nos protegem temos que os proteger

Quem não se lembra do “ carro da bomba”, o sonho de tantos meninos e algumas meninas que se reveem na coragem e no risco dos soldados da paz, na luta contra o inferno. As crianças olham o mundo com verdade e por isso a sua admiração pelos bombeiros é sincera e genuína.

Outas vezes são as fardas que os enchem de orgulham, quando por um ou dois dias vestem a pele dos seus heróis e se imaginam a combater chamas, enquanto enfrentam os seus próprios medos, protegidos pela sua própria fantasia.

Depois pela vida fora os sonhos alteram-se, e a maioria esquece onde começou a estruturar a sua coragem. Esquece o poder das brincadeiras e a força do “faz de conta”.
Outros persistem e, muitas vezes contra tudo e contra todos, não desistem dos seus sonhos e das suas convicções e continuam a caminhar com a alma de bombeiro.
Mas os homens do carro da bomba, esses mantêm de corpo e alma o sonho de proteção dos outros, da humanidade, do planeta.
Por isso todas as palavras, todos os elogios são escasso e incompletos. Se nos protegem temos que os proteger.

Não basta recordá-los no tempo das chamas, quando o calor e o medo nos assusta. Não basta levar-lhes leite e água e alimentos, apesar da extrema necessidade do momento. Não basta os discursos dos responsáveis, nem as promessas da hora.
O sentido comunitário e de solidariedade tem de vir de dentro, do coração e da razão, e manter-se no íntimo da cada um, de forma contínua e permanente.
Enquanto a nossa vida continua, eles continuam lá, por nós, por todos, e nós rapidamente nos esquecemos deles.

A chuva amacia o medo e afoga as nossas preocupações, mas eles continuam lá. Lutam e não desistem, lutam até à morte. Deixam as famílias em dor, a sangrar de sofrimento, morrem mas permanecem na alma dos outros que não baixam os braços, nem desistem, por nós, sempre por nós.
A sua atitude de permanência não é apenas uma profissão ou um serviço é uma entrega, um ato de amor, de solidariedade e humanidade
É preciso exigir mais, muito mais às autoridades e corporações. Exigir condições máximas, meios de proteção, absolutamente credíveis.
O discurso das estratégias, como desculpa para o que falhou na segurança das equipas, não convence. Mais, é preciso muito mais. Parar e pensar que todos os anos a história se repete e que o essencial não se justifica com alguns factos.
Sem dúvida que a “mão criminosa” tem que ser severamente punida e que os atos de desflorestação, ainda que devidamente justificados pelo desenvolvimento, e a poluição, com e sem justificação, devidamente repensados e equacionados.
Nem tudo justifica tudo e não têm que ser os bombeiros a responder com prontidão aos erros consecutivos desta sociedade desumanizada, egoísta e egocêntrica.
Eu não me ponho de fora, sou tão corresponsável como tantos outros, não chega falar, escrever ou desejar, é preciso agir e pressionar.

As promessas das campanhas têm que ser cumpridas e se não o forem devem ser severamente penalizadas, as cantiguinhas e os espetáculos de rua não podem encobrir a responsabilidade das palavras ditas.

As prioridades não podem ser sempre as mesmas, porque na hora do aperto são eles que vão estar lá a dar a vida por nós e pelos bens que a tantos, custa conquistar.
Vamos relembrar a infância e o orgulho de ser um dos homens do “carro da bomba”. Os nossos filhos sabem porque tanto os admiram, e na sua inocência dão-nos grandes lições de moral que o nosso ego de adultos se esquece de valorizar.

Os bombeiros são de facto uns heróis e devemos venerá-los pelo seu significado.
O elogio é pouco, não encontro palavras para agradecer o que fazem por nós. Obrigado é pouco, muito pouco.
Para que no futuro incerto, os meus netos continuem a admirar o carro da bomba, prometo não me esquecer durante o inverno das razões que mais uma vez deixam em luto mais um Verão. 

A formiga sempre teve mais resultados do que a cigarra. O problema é que a maioria das formigas partilham o que têm com as preguiçosas cigarras e assim estas nunca precisam de mudar.
Mais uma vez, chegou a hora da mudança!
Uma vénia e um aplauso sentido e reconhecido aos bombeiros do meu país!!!

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
07/09/13

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