26/08/2013

RODRIGO MOITA DE DEUS

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Defender o SNS 
é extinguir a ADSE
É do tempo dos meus pais mas esta semana voltou a ser notícia. Parece que a ADSE paga tratamentos que são recusados no Serviço Nacional de Saúde. Nada de mais. Não fosse o insignificante pormenor de serem os contribuintes a pagar a ADSE.

Comecemos pelo princípio. O que é a ADSE? A ADSE é uma direcção-geral sob tutela do Ministério das Finanças. Foi criada em 1963, durante o Estado Novo, e servia para servir saúde aos funcionários públicos. Estado Novo, repito.

Entretanto veio a democracia. E o Serviço Nacional de Saúde. E alguém se esqueceu de extinguir a ADSE. A coisa ficou mais ou menos assim dividida: SNS para o povo e ADSE para os seus funcionários. Em vez de melhorar, isto ainda ficou pior. O mesmo Estado dono dos hospitais públicos passou a financiar a ida dos seus funcionários aos hospitais privados. À concorrência, portanto. É mais ou menos a mesma coisa que a administração da SONAE criar um cartão de desconto para os seus funcionários usarem nos hipermercados Jumbo. Com uma diferença. A SONAE tem receitas próprias. Fará o que entender do seu dinheiro. O Estado não tem receitas próprias. Aquele dinheiro é meu.

O Estado tem um serviço de saúde e depois explica que os seus trabalhadores não precisam de o frequentar. Isto tem outras consequências, para além dos 200 milhões de euros (ano!) que custa aos contribuintes.

Dizem os homens de esquerda que temos, cada vez mais, uma saúde para ricos e uma saúde para pobres. Têm razão. O acesso à saúde deixou de ser igual. Deixou de ser social. E é o próprio Estado a dar o exemplo. O mau exemplo. A consequência é a degradação do Serviço Nacional de Saúde. Aquela coisa que tantos juram a pés juntos defender. Mas a defesa do SNS começa aqui. Começa na extinção, pura e simples, da ADSE*.

* Álvaro Beleza, membro do secretariado nacional do Partido Socialista, defendeu esta mesma ideia. Tinha razão. Não custa admitir.

Jornalista

IN "i"
22/08/13

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