01/08/2013

INÊS PEDROSA

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Pavilhão da Degradação Nacional

Há dias, António Costa apresentou a sua candidatura à Câmara de Lisboa no cenário deslumbrante da Pala Cerimonial do Pavilhão de Portugal.
Tudo tranquilo, porque a Pala não está em risco de cair, pelo menos para já – o Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do território esclarecia em Maio passado que a Pala foi restaurada em 2009 e se apresenta em perfeitas condições.
Acrescentava também que o interior do edifício tem sido «objecto de permanente manutenção», assegurada «através da exploração do imóvel, no qual são promovidos eventos de diferente natureza».

Sim: já vi saírem do Pavilhão de Portugal noivas e bebés com traje baptismal; mas duvido que estes celebrantes ou as empresas que alugam o local para as suas festas bastem para garantir a manutenção do edifício. Por fora, a degradação é já notória: brechas nas paredes, pedras partidas, pichagens, manchas de humidade.
O Pavilhão de Portugal celebra 15 anos. É, consensualmente, uma das mais belas obras de Siza Vieira. Recebeu os prémios Valmor e Municipal de Arquitectura, e ainda o Prémio Leca de Construção.
Em 2010 foi classificado como Monumento de Interesse Público pelo IGESPAR. Investiram-se nele 23,5 milhões de euros. E está, desde o final da Expo 98, abandonado.
Trata-se, sem dúvida, de uma instalação artística eloquente sobre o que é Portugal – mas podemos nós pagar este preço pela contemplação da nossa falta de amor-próprio?
Disse-se que ia para lá o Conselho de Ministros – achou-se, e bem, mal empregado. Naquele sítio e com aquela arquitectura, devia criar-se um chamariz turístico. Os turistas rodeiam o local, sem acreditar que não se possa entrar e que não haja ali nada para ver.
Em 2009 criou-se uma equipa que declarou estar a fazer um estudo de «redefinição programática» de modo a criar ali um projecto’multiusos’, que estaria pronto em 2011. Mas nada aconteceu.
Ao longo dos anos, falou-se de um Museu de Arquitectura, de um Museu dos Descobrimentos e do Mar, de um Museu da Língua. 

Também eu apresentei um projecto: afigurou-se-me que em vez de se copiar o modelo do Museu da Língua de São Paulo, que não faz sentido nenhum num país que, à excepção do mirandês, não tem línguas autóctones, seria interessante criar ali um museu das Literaturas, já que foi essa a primeira arte em que Portugal se internacionalizou, e continua a ser uma das maiores forças do país.
Afigurações que o excesso de luz de Lisboa nos provoca, claro: nenhuma sumidade governante desta província dos subúrbios da Europa sequer responde às maluqueiras dos cidadãos.
Em Abril de 2012, o Ministério multiusos de Assunção Cristas anunciou que tinha feito uma proposta de compra do edifício (pertencente à Parque Expo, que estaria finalmente em extinção, 14 anos depois da exposição para que fora criada) à Câmara Municipal de Lisboa.
Em Julho do mesmo ano, António Costa anunciava que não tinha havido acordo quanto aos montantes solicitados pela Parque Expo. 

Gostava de saber que valor foi pedido pelo edifício, e quanto custarão as obras para o recuperar, antes que se desfaça. Parece-me até que todos nós tínhamos o direito de saber. Entretanto, agora que os dias estão longos e o Tejo brilha, podíamos organizar, debaixo da Cerimonial Pala, a Grande Festa da Degradação Nacional.

IN "SOL"
30/07/13

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