26/07/2013

HELENA PINTO DE SOUSA

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Meia culpa


A tentação de atribuir ao programa de ajustamento toda a culpa da escalada do desemprego em Portugal é grande. Mas neste caso a austeridade só tem meia culpa. De acordo com o Eurostat, desde 2008, quando a crise financeira mundial eclodiu, apenas um país da UE baixou a sua taxa de desemprego. Nem vale a pena tentar criar suspense sobre a identidade do suspeito, pois é fácil adivinhar que se trata da poderosa Alemanha.
Porém, em todos os outros países da UE, o desemprego aumentou e muito. No seu conjunto, a taxa de desemprego em Maio de 2013 era 60% mais alta do que 5 anos antes. Este é um drama social que atravessa todo um continente com características muito próprias, cujos líderes não souberam avaliar os efeitos da globalização e da liberalização do comércio mundial, nem tão-pouco o impacto que a adopção da moeda alemã teria na sua economia.
Durante anos disfarçou-se o desequilíbrio subsidiando indirectamente uma boa parte do emprego, quer através dos Estados, quer através do acesso a crédito de baixo custo, o que entretanto deixou de existir. Mas o efeito europeu só explica metade do problema. Nos últimos 2 anos, já durante a vigência do programa de assistência financeira, a taxa de desemprego aumentou 40% em Portugal mas "apenas" 16% na Europa. Neste capítulo mais recente é clara a ligação entre a asfixia económica e a destruição de emprego. O programa de ajustamento foi desenhado para sanear as contas públicas, com base numa receita patenteada pelo FMI que é imune às especificidades do país à qual é aplicada. Mas Portugal é especialmente vulnerável a esta receita brutal. O tecido empresarial composto por 99,9% de PME não resistiu ao choque. Mais de metade da população activa tem apenas a escolaridade básica ou nenhuma, o que implica menor capacidade de adaptação, de reconversão e de mobilidade. Se a economia não tiver mais tempo e condições para se ajustar, as previsões que apontam para a destruição de um total de 686 mil postos de trabalho são optimistas.

Professora do ISCTE

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
22/07/13

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