22/07/2013

CRISTINA ESTEVES

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O segundo resgate 
pré-anunciado

A decisão do Presidente da República de promover um acordo de salvação nacional que garanta um ano de estabilidade política para o cumprimento do Memorando de Entendimento, em troca da antecipação das eleições legislativas em precisamente um ano, é à primeira vista, para muitos, incongruente. Será?

Certamente, visto de fora, pouco sentido faz ter uma "paz podre" entre 3 partidos que pouco mais farão do que sala entre si, entre desconfianças mútuas e em plena ebulição para umas eleições marcadas para Junho de 2014. Como pouco nexo fará, em nome da dita estabilidade, promovê-la durante a vigência do actual acordo com ‘troika' para não a garantir no seu términus, quando mais será necessária e estaremos à mercê dos mercados, lançando entretanto o País numa indefinição a prazo.

Neste contexto, seria então mais crível que o PR tivesse optado pela solução proposta pela coligação, preferencialmente alargada ao PS, ou promovendo um acordo de incidência parlamentar com este, e pela duração da actual legislatura. Ou invés, que tivesse optado por eleições antecipadas clarificando desde já o quadro político ainda debaixo do "protectorado" da ‘troika'. Qualquer desta soluções permitiria abordar o pós-'troika', vulgo os mercados, com um grau de previsibilidade, até quem sabe estabilidade, mais consistente. Será mesmo?

A não ser que Cavaco Silva, na posse de informação privilegiada, tenha como dado adquirido o segundo resgate (ou outro nome pomposo e dissimulado que lhe pretendam atribuir) e pretenda condicionar e controlar o ‘timing', os danos e o seu desfecho: garantir o cumprimento do actual programa, mesmo que os seus objectivos deste venham a ser ajustados e reajustados para conter os desvios; preservar a nossa imagem de bom aluno e País cumpridor; aguardar pelas eleições alemãs e dar tempo para uma inversão na abordagem europeia à crise na zona euro; negociar uma transição suave de um programa de assistência financeira com a ‘troika' para outro na alçada da CE e BCE, a salvo do livre arbítrio dos mercados; e, amarrar o novo executivo saído das eleições, seja ele qual for, aos novos dictames impostos.

Em súmula, Cavaco Silva quererá ter "mão" em como, quando e quem fará a transição entre programas de assistência financeira e governará daí em diante. Pelo caminho pode condicionar, ou mesmo "abater", os três líderes dos partidos do arco do poder, de quem não deve nutrir especial consideração, como que "boa" moeda expulsa a "má".

 Jornalista

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
18/07/13

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