28/06/2013

SOFIA CANHA

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Lição de cidadania

Greve foi uma mais-valia para a sociedade portuguesa e para a democracia

A Constituição da República Portuguesa garante o direito à greve, entre outras formas de participação cívica e política, a qualquer cidadão português. Os direitos que os trabalhadores adquiriram em 1976 só se materializam quando exercidos e se justificam se reclamados e vivenciados. O reconhecimento da legitimidade desses direitos é que leva os cidadãos a requerê-los e exerce-los. A partir do momento que se generalize perigosamente a dispensa do exercício dessas garantias por quem de direito, abre-se o caminho para a sujeição a uma ordem hegemónica e eliminação dos mencionados direitos.

Os professores grevistas são tantas vezes acusados de irresponsabilidade, de estarem a fazer mal aos seus alunos, de impedirem outros de trabalharem, de prejudicarem o País. Estas acusações não passam indiferentes e condicionam os alvos, neste caso, os docentes, no seu envolvimento nas greves, pois muitos assumem uma culpa infundada e querendo manter a sua dignidade, abstêm-se de participar nos atos reivindicativos mais intensos.

Convém lembrar que o benefício das oito horas de trabalho diário, o usufruto dos dias de descanso semanal, o gozo das férias, o benefício dos subsídios de férias e de Natal, os benefícios de Licença de Maternidade, Subsídio de Casamento, Subsídio de Funeral, Subsídio de Baixa Médica e de Desemprego, entre tantos outros, foram conquistas feitas à custa de muito empenho e esforço durante décadas, o que levou à dignificação do trabalho e dos trabalhadores. Retroceder pode ser possível, mas não sem a firme e legítima resistência dos trabalhadores.

É pois, neste sentido, que considero um ato pedagógico aquele que se tem vivido nas últimas semanas e cujos autores têm sido os professores, educadores e investigadores. Num sentido social mais amplo, pode dizer-se que esta greve foi uma mais-valia para a sociedade portuguesa e para a democracia. A classe não se deixou intimidar pelas pressões feitas pelo governo, “deu uma lição de dignidade e serviu de exemplo a toda a função pública, a todos os trabalhadores, à sociedade portuguesa e à democracia portuguesa. Os professores estão assim de parabéns, pois voltaram a ser uma referência para a sociedade, uma referência contra o autoritarismo e contra o medo” (São José Almeida, Público, 22 de junho de 2013).

Deixo aqui a minha expressão de apreço e gratidão pelo esforço e empenho dos professores que aderiram à greve às avaliações e à greve nacional de professores e que vão aderir à Greve Geral do dia 27 e às lutas que se podem seguir. A luta continua.

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
25/06/13

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