08/06/2013

MARIANA MATOS

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Sem pés nem cabeça


A solução mista de circulação de trânsito e peões na rua dos Mercadores é paradigmática de algumas soluções encontradas para a cidade de Ponta Delgada, nos últimos anos…

Basta recuar a 2009 para lembrar que à data da reabertura desta rua, e a par com a justa homenagem aos calceteiros pelo seu trabalho extraordinário, a autarquia decidiu que por cima daquele belíssimo passeio circularia, além do comum cidadão, todo o tipo de trânsito…

Agora, novo caso deu à luz na cidade. Falo, claro está, das improvisadas ciclovias de Ponta Delgada que ocupam a faixa direita da estrada, entre o Clube Naval e o Forno da Cal, em São Roque, durante os fins de semana.

Não se pode dizer que a ideia de ter ciclovias em Ponta Delgada não é uma belíssima ideia, porque é, de facto. Porém aquelas, além de nos parecerem inseguras e absurdas, não deixam de nos fazer lembrar a solução mista da rua dos Mercadores…

Em quase todas as cidades do país há planos de redes de ciclovias urbanas, que disponibilizam aos cidadãos, inclusivamente, bicicletas na cidade, para serem usadas pelos habitantes e turistas.

Ainda recentemente, por exemplo, Torres Vedras anunciou estar a executar obras, com vista à construção de novas ciclovias e à reformulação de outras para estarem de acordo com as regras do novo código da estrada. Em homenagem ao ciclista Joaquim Agostinho, natural deste concelho, a autarquia batizou as bicicletas de “Agostinhas”…

Quando as coisas são feitas com tempo, há possibilidade de fazê-las bem e com imaginação. Quando são feitas assim às “três pancadas”, o resultado é o que se tem visto nas últimas duas semanas: “Baias e cordinhas” a fazer de conta que se fez qualquer coisa… Uma lástima.

Podia o PSD que tem a maioria na Câmara Municipal de Ponta Delgada, há mais de uma década, ter feito um maior investimento em políticas de transportes públicos, que favorecessem a mobilidade no maior concelho dos Açores? Podia. Mas a autarquia tem sistematicamente negligenciado essa aposta, focando a sua intervenção numa política de mobilidade exclusivamente dedicada ao automóvel, nunca sendo sequer capaz de decidir a construção da tão famigerada central de camionagem ou de criar faixas de autocarros que deviam funcionar nas horas de ponta e ser melhor articuladas com os minibuses…

Já houve tempo suficiente para haver um maior investimento nesta área, incentivando transportes alternativos, como scooters e bicicletas, assim como investindo na maior utilização dos transportes públicos, juntando-se a isso investimento na qualidade das paragens de autocarros, um sistema de comunicações inteligente com informação electrónica sobre horários e percursos. Nada disto é novo. Os vereadores do PS de Ponta Delgada bem que têm insistido. Mas nada. Há muito tempo que a autarquia de Ponta Delgada se podia ter empenhado nestas e noutras soluções. Primeiro o Senhor Vice-Presidente da Câmara, José Manuel Bolieiro preferiu o Museu do Niemeyer. Agora, o Senhor Presidente da Câmara, José Manuel Bolieiro (sim, o mesmo) prefere um Pavilhão Desportivo na cidade.

Tudo por aqui é feito sem “pés nem cabeça”. Quando assim é, com mais ou menos variações, o cantor que era António de primeiro nome, já avisava: “o corpo é que paga”…
Para lá vamos…

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
05/06/13

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