28/05/2013

PEDRO SOUSA CARVALHO

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O enólogo Jorge Sampaio 
e a estratega Ferreira Leite

É o banquete preferido dos senadores da vida política nacional. Sentam-se à volta de uma mesa e toca a dizer mal do Governo e das políticas de austeridade.

E quando se lhes pergunta pelas alternativas, dizem que é preciso renegociar com a ‘troika'. O último repasto aconteceu no Conselho de Estado e, ao que consta, o cenário de eleições antecipadas esteve em cima da mesa. A Mário Soares acho que já ninguém lhe leva a mal. Lança os foguetes e faz a festa. Acabou de anunciar que vai organizar uma conferência para criar uma frente anti-austeridade. E até somos capazes de adivinhar as conclusões da dita conferência: é preciso renegociar com a ‘troika'. Mas já lá vamos.

De Jorge Sampaio, outro histórico socialista, esperava-se um pouco mais. Numa entrevista ontem à Antena 1, Sampaio veio dizer que o consenso "agora está esgotado". E diz mais: uma consulta aos eleitores não é "algo que se tenha de evitar a todo o custo". Será que Jorge Sampaio não tem olhado para as sondagens? Haverá porventura alguma sondagem donde se depreende que de umas eleições antecipadas possa sair uma maioria que permita uma governação estável? Mesmo que o CDS, como sugeriu Bagão Félix, dê uma volta de 360 graus (sim, uma volta de 360 graus para sair e regressar ao poder) e faça uma coligação com o PS, o que é que esse novo governo vai fazer de diferente para evitar a austeridade? Provavelmente vai renegociar com a ‘troika'. Mas já lá vamos.

E o mais estranho na entrevista de Jorge Sampaio é que confrontado com o cenário de Cavaco poder dissolver o Parlamento, arrepia caminho: "É muito difícil de fazer, porque só é claro se houver uma alternativa. Ela existe, mas tem de encorpar". O que Jorge Sampaio está a dizer é que António José Seguro tem de ficar mais encorpado. Se estivéssemos a falar de vinho, seria um vinho mais ácido e mais forte, para ser degustado à mesa do banquete dos históricos socialistas. E a questão que se coloca é o que fará de diferente António José Seguro perante as exigências de austeridade da ‘troika'? Diz ele que vai renegociar com a ‘troika'. Mas já lá vamos.

Chegados aqui, é altura de também perguntar a Manuela Ferreira Leite o que ela faria para renegociar com a ‘troika'. A ex-presidente do PSD responde: "Às vezes perguntam-me o que é que eu faria se lá estivesse. No mínimo, gritava". Ok, a estratégia para convencer a ‘troika' é gritar! E por que não uma estratégia mais agressiva? Por que não beliscar a ‘troika'? Ou dar um calduço ou um carolo?
Mas o Governo, já se percebeu, não quer servir aos senadores da política nacional a cabeça de Vítor Gaspar numa bandeja. O Governo também tinha uma estratégia. Concentrar a austeridade na primeira parte da legislatura (fazer o ‘front-loading' da austeridade) e dedicar a segunda parte do mandato a medidas mais amigas do crescimento. Falhou. Primeiro serviu-nos o primeiro prato recheado de aumentos de impostos. O segundo prato foi um brutal corte de despesa. E para adocicar vai anunciando, aqui e ali, algumas medidas avulsas para o crescimento, como o super crédito fiscal desvendado ontem. Mas o repasto continua a ser intragável.

Por ter falhado, tornou-se imperioso renegociar com a ‘troika' para aliviar a austeridade e fazer crescer a economia. Mas para renegociar é preciso ter trunfos. E o maior trunfo que Portugal tem tido é o consenso e a estabilidade política. Se o perdermos é bom que nos preparemos para um segundo banquete com a ‘troika', que é como quem diz, um segundo resgate.

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
24/05/13

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