03/05/2013

CARLA COOK

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O meu filho é 
mais Einstein do que o teu

As Ted Talks são conferências em que cidadãos com uma boa ideia nos falam durante um quarto de hora sobre um assunto que pode mudar a nossa visão do mundo. Estas conferências já deram a volta ao mundo a espalhar ideias. Mas o que vos aconselho a ver – se ainda não viram na internet – são as Ted Talks feitas por crianças. 
Fico surpreendida com miúdos de 12 anos que, ao invés de jogarem jogos de computador desenvolvem programas informáticos; emocionada com meninos de 10 que inventam maneiras de manter os leões à distância das suas aldeias; e boquiaberta com adolescentes de 15 que descobriram como detetar precocemente certas formas de cancro, já para não falar na quantidade de virtuosos musicais que por lá abundam. 
Imediatamente, me saltam à mente duas coisas: primeiro, que é impossível dizer que existe uma geração que “não sabe nada nem se interessa por nada.” Como em todas as gerações, há de tudo e como em todas as gerações a maior parte das pessoas é tonta (ou não teríamos os governantes que temos escolhidos por maioria de cabeças toscamente pensadoras), mas existem pequenos génios, a par do vulgo; a segunda é que não percebo como é que pode aparecer um estudo que diz que há cerca de 40 mil crianças sobredotadas em Portugal (notícia recente do Público). 
Portugal nunca faz a coisa por menos do que ir aos extremos: ou afirma ter uma geração rasca, divertindo-se a pôr no Youtube vídeos das respostas degradantes dos universitários a perguntas de cultura geral, ou declara uma tal quantidade de crianças génios que, passe a expressão, são mais que as mães. Surge a pergunta: que fazemos das nossas crianças génios para que se tornem adolescentes idiotas? Só pode ser um defeito de educação português - entenda-se aqui educação no sentido lato e não apenas académico (aliás, o dom de um sobredotado nunca se compadece com a formatação mediana das escolas… mas isso é outra conversa). 
Ou será que, muito justamente pensando e não querendo retirar à educação todos os erros que tem, que andamos a extremar demais as nossas opiniões? … Com efeito, não será leviano falar-se em 40 mil crianças com menos de 12 anos sobredotadas num país de 11 milhões de habitantes, quase todos velhos? Não é exagero que a esmagadora maioria das nossas crianças seja, subitamente, sobredotada? O que se entende por sobredotado em Portugal? Pessoalmente, creio que baixámos tanto a fasquia das nossas avaliações que passámos a considerar sobredotados qualquer um com um toque de inteligência… Mas o sobredotado não é esse. O sobredotado é o que possui a centelha do génio e esses são raros e, infelizmente, bem pouco compreendidos, inclusive em testes avaliativos feitos por pessoas… não sobredotadas. 
Recentemente, li um artigo no “Atlantic” sobre o modo como as diferenças culturais eram determinantes na avaliação das características das crianças. É muito curioso que a esmagadora maioria dos pais americanos e da Europa do Norte classifique o seu filho como “sobredotado”; já os pais espanhóis, italianos e do Hemisfério Sul classificam os seus filhos, maioritariamente, como “simpáticos”, “felizes” e “fáceis de lidar”; na Holanda, os pais referiam a “curiosidade” como uma persistente e boa característica dos seus pequenotes. Reparem como foram pedidas aos pais as referências mais positivas. É muito claro aquilo que cada nação valoriza… ou entende ter na manga – pois não esqueçamos que muitos pais, não tendo vivido o que desejavam, tentam viver através das pobres crianças. 
Portanto, arrisco dizer: será que Portugal, achando-se pouco inteligente de momento e precisando de uma injeção no ego, agora até faz publicidade com as criancinhas? Que vergonha, senhores.

IN "AÇORIANO ORIENTAL"
30/04/13
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