15/05/2013

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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"

Deco e comerciantes admitem subida de preços com fim de moedas de cêntimo

A Associação de Defesa do Consumidor (Deco) e a Confederação do Comércio e Serviços consideraram hoje que o desaparecimento das moedas de 1 de 2 cêntimos, proposto pela Comissão Europeia, deverá originar um ligeiro aumento dos preços.

O secretário-geral da associação, Jorge Morgado, admitiu, em declarações à agência Lusa, que "o desaparecimento destas moedas pode produzir, através dos arredondamentos, um ligeiro aumento do preço de alguns produtos".

"Em vez de termos produtos a terminar em oito e nove cêntimos, o arredondamento far-se-á, com certeza por excesso e poderá provocar algum aumento de preços", declarou Jorge Morgado, que admitiu, contudo, que esta sugestão da Comissão Europeia, divulgada na terça-feira, "tem aspetos positivos e negativos".

A mesma previsão de subida de preços é apontada pelo presidente da Confederação do Comércio e Serviços, João Vieira Lopes, que admitiu à Lusa que "o consumidor seria prejudicado porque os arredondamentos de preços por parte da indústria têm tendencialmente natureza inflacionista".
Também o professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra José Reis considerou, em declarações à Lusa, que esta medida pode aumentar ligeiramente os preços, mas explicou que isso não significa um aumento da inflação.

"Mesmo que marginalmente ou simbolicamente, [esta hipótese] pode ter a consequência de reforçar a componente administrativa dos preços e, neste caso, mais uma vez, para cima e não para baixo".
José Reis lembrou que, ainda no tempo do escudo, quando se falou no desaparecimento de moedas de valores mais baixos, "colocou-se a questão se [isto] não serviria para um aumento da inflação".
"[Na altura] muitas das medidas económicas eram de combate à inflação, coisa que não é o principal problema de hoje, que é o não crescimento e a não criação de emprego", vincou.

O professor catedrático explicou que, atualmente, "a evolução dos preços tem pouco que ver com as determinantes económicas da inflação", uma vez que "são preços que, provavelmente, poderiam ter caído mais, mas não caíram, porque os 'players' [empresas de determinado mercado] têm esse poder".
"Talvez nós devêssemos estar numa altura em que as autoridades monetárias estivessem mais preocupadas com o ajustamento dos preços a razões económicas e lógicas de funcionamento económico e procurassem desmantelar essas lógicas administrativas de formação de preço, das quais as vítimas principais são os consumidores", afirmou.
Por seu turno, o presidente da Confederação do Comércio afirmou que, "do ponto de vista do comércio e serviços, o desaparecimento das moedas de 1 e 2 cêntimos é praticamente nulo, mas diminui a margem promocional das empresas e obrigaria a novas estratégias de 'pricing' [definição de preços]".
A Deco vê também um lado positivo no cenário proposto pela Comissão Europeia, com Jorge Morgado a considerar: "Estamos cada vez mais a assistir a uma tentativa de terminar os preços a 99 e 98 [cêntimos], tentando disfarçar o preço real dos produtos. Com o desaparecimento destas moedas esta tentativa vai acabar".

O secretário-geral da Deco destacou ainda um outro aspeto que considerou "importante", o do custo de fabrico destas moedas.
"É um custo alto, que cada governo de cada país tem que suportar, estamos a falar de uns milhões de euros, e o valor facial das moedas não compensa minimamente", adiantou.
Neste contexto, a posição da Deco inclina-se para "o desaparecimento das moedas de 1 e 2 cêntimos, mas não um desaparecimento brusco".
"Somos favoráveis a um desaparecimento gradual, por forma a que [as moedas de um e dois cêntimos] não desapareçam de um dia para o outro", disse.
De acordo com dados da Casa da Moeda, em 2012 foram produzidas em Portugal 50 milhões de moedas de 1 cêntimo e 35 milhões de dois cêntimos.
Entre 2002 e 2012 foram produzidas cerca de 748 milhões de moedas de 1 cêntimo e 501 milhões de 2 cêntimos. Apenas em 2003 não foi produzida qualquer moeda com estes valores faciais.

* Quando da entrada do "€" uma alface custava 50 escudos, passou a custar 1 €, lembram-se???

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