15/04/2013

SANDRA CARDOSO

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Valeu a pena?

Quem se lembra do ministro das Finanças que quase se demitiu? Da primeira derrota de José Sócrates em minoria parlamentar? Foi há três anos. Acintoso pela lei que lhe tirou dinheiro e deu mais ao Açores, Jardim foi com todas as armas para Lisboa. E o PSD nacional deu-lhe a mão nessa cruzada contra o ‘bandido’ que o quis castigar pelo despesismo. Recuperar o garrote custaria 80 milhões de euros ao Orçamento de Estado, em 2010, mas a oposição não foi sensível ao argumento e o PSD cedeu aqui e além para agradar a gregos (CDS) e a troianos (PCP e BE) e lá avançou destemido. A Madeira diz que ganhou. Uma lei que sabia-se era uma manta de retalhos, resultante de um agrado a muitas vontades. Veio o mau tempo, a devastação e a morte. A Região perdeu, ergueu-se e aceitou meter a lei na gaveta a troco da solidariedade. Não foi toda é certo, que durante estes anos a Região recebeu, por exemplo, uma parcela do dinheiro dos jogos da Santa Casa.
Três anos depois, diz que tudo mudou. Uma ‘troika’ exigente que mandou controlar quem gasta mais do que tem e do que pode. É o PSD - o mesmo que cavalgou lado-a-lado dos madeirenses pela lei de 2010 – que a ignora e vai beber ao ‘garrote’ de Sócrates, que levou à demissão de Jardim. Pois que sim, que a culpa é da ‘troika’. Já ninguém se lembra da briga que Passos Coelho comprou com o presidente do PSD-M quando disse que o PSD não tinha de lhe fazer as vontades todas e falava precisamente da Lei de Finanças das Regiões Autónomas, demarcando-se da postura da líder do PSD na altura, Manuela Ferreira Leite? A ‘troika’, pois.
Não é nada de novo, portanto. Só uma lei – que foi uma vitória sem nunca ter sido – e que deixa de ser, sem nunca ter existido. Jardim perdeu. Afoga mágoas em Bruxelas. A teimosia de aprovar uma lei contra o Governo de Lisboa de nada lhe valeu, mais uns inimigos políticos, prontos a ajustar contas quando têm oportunidade. Foi ganancioso, perde tudo.
Mas na verdade perde a Madeira, que neste processo negocial vale nada, ou quase nada. É ela que paga a falta de credibilidade da sua liderança e de nada vale os Aqui D’El Rei e os gritos desesperados em Lisboa. Valeu a pena?, questiono. É a politiquice, um jogo de bastidores que quando chega ao cidadão quer dizer normalmente mais sacrifícios.
A pergunta poderá ir também directamente ao primeiro-ministro, o que não tinha pressa de ir ao pote, e que tinha traçado o diagnóstico do país e delineado um caminho de cura que passava pelo corte nas gorduras. Afinal o Estado gordo era o Estado Social. Valeu a pena? E valerá a pena, António José Seguro, insistir no mesmo erro?

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
12/04/13

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