23/03/2013

DANIEL DEUSDADO

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Rui Filipe de Menezes Moreira

As candidaturas de Luís Filipe Menezes e de Rui Moreira à Câmara do Porto são um excelente indício de que as coisas vão mexer mais na cidade. Não porque haja mais dinheiro mas porque ambos são empreendedores e radicalmente diferentes de Rui Rio.
É até extraordinário que o atual presidente da Câmara seja o patrono moral da candidatura de Rui Moreira. 'Geneticamente', Moreira é mais parecido com Menezes - por muito que a fação Rio imagine Moreira discípulo do atual presidente...
Quem conhece o presidente da Associação Comercial do Porto sabe o 'mundo' que ele pode trazer ao Porto e o que já fez pela região - o combate voluntarioso contra o aeroporto da Ota é o melhor exemplo disso. Mas falta que muitas mais pessoas tenham a noção de quem ele é, além de estar por conhecer se o seu traço aristocrático atrai ou afasta eleitores. E quanto mais político quiser parecer (como ontem, por exemplo, no teleponto), menos independente e espontâneo ficará aos olhos dos eleitores. Ou seja, um político novo num formato velho.
Em oposição, é impossível não se reconhecer a mudança de Gaia em apenas uma década. No entanto, muitos eleitores terão de esquecer que é no partido do Governo que terão de votar (e a tentação do voto de protesto contra Passos Coelho será enorme...). Vão conseguir pôr a cruz no PSD e ver depois o seu voto instrumentalizado por Relvas e companhia em noite eleitoral como sinal de vitória? A derrota de Fernando Gomes, pelo PS, em 2001, mostra os grandes riscos do candidato laranja.
Os projetos de cidade de Moreira e Menezes vão ajudar o Porto a aproveitar o grande fator de mudança dos últimos anos: o acréscimo de turistas trazido pelas low-cost e o 'boom' de revitalização comercial e alojamento na Baixa. Mas o grande desafio é o de transformar a Invicta numa metrópole com prestígio além-fronteiras, capaz de captar marcas que invistam, e massa cinzenta que aqui queira trabalhar. Isso é muito diferente de fazer dela uma cidadezinha economicamente anacrónica onde pontifica um circuito automóvel que custa 2,1 milhões de cada vez aos contribuintes e é o maior emblema da obra intangível realizada em 12 anos. Infelizmente neste ponto, Menezes, Moreira e até Manuel Pizarro (PS) são iguais: acham bem este exorbitante epifenómeno 'kitsch' de velocidade urbana, símbolo da idade das trevas ambientais que lhe está subjacente. Infelizmente, este legado de Rio é uma nódoa difícil de lavar junto de políticos à caça de voto.
Nem tudo foi mau com Rui Rio, obviamente. A requalificação dos bairros da cidade, bem como a decisão arrojada e certeira de demolir o Bairro de São João de Deus, foram boas mas não esconderam o essencial desta década: as camadas mais pobres da população precisam de emprego e de um projeto de vida. Obviamente, numa conjuntura económica como esta, não é a Câmara, sozinha, que pode fazer algo contra o desemprego da cidade. E isso é verdade, hoje. Mas há dez anos, não ter acreditado na cultura como saída empreendedora de uma nova geração é o maior erro histórico dos anos Rio.
No final desta corrida, independentemente de tudo o que acontecer, teremos Menezes e/ou Moreira na Câmara, ou os dois. É uma esperança nova. Por muito veneno que imensos interesses possam instalar entre ambos, seria uma pena que esta eleição não resultasse numa extraordinária nova força para o Porto.
P.S.: A decisão de ontem do Tribunal Cível de Lisboa de impedir Fernando Seara de se candidatar à Câmara da capital tem os fundamentos certos para resolver a dúvida sobre todos os candidatos (Menezes incluído). O juiz, ao invocar essencialmente o artigo 118 da Constituição que menciona o princípio da renovação política (e já não apenas a querela do presidente 'de/da' Câmara), lança uma nova questão para o Tribunal Constitucional dirimir: pode ser constitucional uma lei do Parlamento que impede mais de três mandatos dos presidentes de câmara e deixa de fora dessa limitação os líderes dos governos regionais dos Açores e Madeira ou o primeiro-ministro? Diz a Constituição: "Ninguém pode exercer a título vitalício qualquer cargo político de âmbito nacional, regional ou local.". Qual o fundamento para limitar apenas o poder executivo autárquico?

IN "JORNAL DE NOTÍCIAS"
21/03/13

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