Matar nazis a coice
não é coisa para bife
Sabe-se
que Alexandre chorou quando soube da morte de Bucéfalo. Velho e doente,
havia muito que não era montado pelo conquistador macedónio, mas este
nunca esqueceu o seu companheiro em tantas batalhas Ásia adentro. Também
Napoleão estimava os seus cavalos de guerra e Vizir é até hoje
exibido, embalsamado, nos Inválidos, não longe do túmulo do imperador.
Mas
a melhor história sobre um cavalo tem de ser a de Íris XVI: acabou
frente ao pelotão de fuzilamento após matar um nazi com um coice. Foi
condecorado herói de França.
Que se come cavalo é de há muito
sabido, basta pensar nos exércitos de séculos passados obrigados tantas
vezes a fazê-lo para matar a fome, os de Napoleão incluídos. Os
cavaleiros mongóis até inventaram assim o bife tártaro, imitado pelos
cossacos e que só bem mais tarde ganhou a sua versão bovina, tão popular
na Europa de Leste.
Em alguns países europeus, como a Suíça, a
França ou até Portugal, a tradição de consumir a carne de cavalo
manteve-se, embora discreta. Uns dizem apreciar o sabor adocicado,
outros falam do preço atraente, alguns recordam-se ainda de os avós
elogiarem os efeitos tonificantes. Dir-lhes-á pouco a beleza do cavalo
lusitano ou então separam muito bem estética e culinária.
Agora
este escândalo europeu com as lasanhas e os hambúrgueres onde coexistem
carnes de todo o tipo fez parecer novidade que se venda carne de cavalo e
haver quem a aprecie. Ainda bem que a polémica estalou na Grã-Bretanha,
onde mais que tudo os cavalos são admirados pelas corridas ou pelos
saltos, porque só assim os espíritos se indignaram e o alerta chegou ao
continente. É que se não faz mal comer cavalo, já fazê-lo a pensar que
se trata de vaca é ser enganado.
Mais que uma questão de haver
produtores e distribuidores sem escrúpulos a tentar maximizar os seus
lucros, o que se percebe é que a fiscalização é ineficaz e que se
comercializa de país para país blocos de carne moída onde tudo é
misturado, desde aparas de vaca até músculos vários, passando por restos
de carcaças de cavalos que foram injectados com substâncias perigosas.
Não se trata de um problema de rotulagem, mas sim de respeito pelos
consumidores, até pela saúde pública. E mesmo em tempo de crise não pode
valer tudo para se conseguir vender mais barato.
O problema não
é, pois, o cavalo. Que o continue a comer quem queira. Por mim, prefiro
vaca ou porco. Quando leio sobre Íris XVI, tenho a certeza de que nenhum
bife estaria à altura de matar a coice um nazi. Diz-se até que o
próprio Hitler nunca gostou de cavalos, ora mais uma razão para admirar
estes animais fora do prato.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
25/02/13
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