07/02/2013

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HOJE NO
"RECORD"

Vicente Moura: 
«Poder político tem sido 
altamente incompetente» 

O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), Vicente Moura, acusa o poder político de ter sido "altamente incompetente" nos últimos 30 anos e diz que, por essa razão, Portugal "não é um país desportivamente evoluído".

"Portugal (...) não é um país desportivamente evoluído. Não temos sistema desportivo integrado, digno desse nome, não detetamos talentos, que é algo quase impensável em termos europeus e mundiais, temos muito poucos atletas, não temos desporto escolar", resumiu Vicente Moura em entrevista à agência Lusa.
Presidente do COP desde 1997 e a terminar o quarto e último mandato, Vicente Moura entende que o país regrediu nos últimos quatro anos, porque os sucessivos governos "não fizeram o que têm de fazer", e teme que piore a caminho dos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016.

"O poder político, em termos desportivos, tem sido altamente incompetente", acusou.

O dirigente de 75 anos, que passou uma primeira vez pela presidência do COP entre 1990 e 1992, reconhece que, depois do 25 de abril de 1974, o panorama melhorou com a crescente profissionalização de atletas e de treinadores, mas lamenta que o salto qualitativo seja "focado em dois, três, quatro, cinco atletas".

"Temos vivido de exceções. Claro que tudo isto não é absoluto, há federações que trabalham bem. Mas estamos à mercê de funcionamento ocasional", sublinhou.

Vicente Moura reconheceu que teve alguma ilusão de mudança quando, em 2005, o COP ficou com a gestão dos projetos olímpicos e quando, em 2007, em vésperas dos Jogos de Pequim, Portugal já tinha obtido em 10 modalidades diferentes 70 medalhas europeias ou mundiais.

"Isso deu-nos a sensação de que havia um aumento generalizado da prática desportiva e levou-nos a Pequim com 12 atletas hipoteticamente medalhados. (...) Rapidamente se verificou que para Londres essa ajuda do Comité Olímpico não era suficiente. Meses antes, eu sabia bem que as possibilidades de medalhas eram escassíssimas", disse.

Agora, sente que não basta que o COP seja mais eficaz e rigoroso no trabalho de gestão para Rio2016, defendendo "uma mudança de mentalidade", nomeadamente que o povo português goste, compreenda e pratique desporto.

"Tudo começa na escola, sem exceção. Em casa e na escola. Se tivermos apenas 12 por cento da população escolar a praticar desporto, e nalguns casos em condições inenarráveis, (...) vamos continuar à espera que apareça um atleta fantástico, um Cristiano Ronaldo, um Carlos Lopes ou uma Rosa Mota, para aumentar a autoestima", sublinhou.
UM HERÓI

Embora reconheça o bom trabalho de algumas federações, como o ténis de mesa, o judo ou a canoagem, que proporcionou a Portugal a única medalha em Londres, Vicente Moura insiste na necessidade de continuidade, para evitar casos como o do triatlo feminino, que, depois da medalha de Vanessa Fernandes em Pequim, não levou uma atleta a Londres.

Salvaguardando a autonomia dos vários agentes - governo, COP, federações -, porque "não se pode estatizar o desporto", Vicente Moura defende um trabalho em colaboração, "uma situação nunca experimentada", e reconhece ao Estado o direito e o dever de exigir que se responda pelo seu investimento.

"O Estado deve definir as regras, mas como os governos navegam mais ou menos à vista, na perspetiva eleitoral... O trabalho não pode ser feito dessa forma. O Estado comporta-se como um magnata que dá dinheiro e espera por resultados sem fazer mais nada a não ser passar o cheque", acusou.

Nesse sentido, Vicente Moura entende que é fácil o governo atual e a oposição "definirem um programa para os próximos 20 anos" que seja transversal às sucessivas legislaturas, com objetivos bem definidos tendentes ao aumento da prática desportiva, em paralelo com o alto rendimento e a alta competição.
UMA HEROÍNA

"Se o sistema não se alterar, acho que o Rio de Janeiro vai ser uma situação muito complicada para Portugal", reafirmou Vicente Moura. "Serão 200 milhões de pessoas preocupadas com os portugueses, porque temos lá milhões de portugueses e familiares de portugueses. Eu não queria estar na pele do governo de então, daqui a quatro anos, nem do comité olímpico", frisou.

* O poder político absolutamente incompetente  mas também os lobys dentro das modalidades e a tutela permissiva, ninguém sai bem na fotografia.

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