14/01/2013

JOSÉ FERREIRA MACHADO

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Senhor Professor Doutor 
              Consultor Internacional... 

O caso ‘Artur Baptista da Silva’ (ABS) é muito interessante e sintomático. Tomei contacto com ele apenas indirectamente, pois não assisti a nenhuma das suas aparições públicas.
Foi durante uma tradicional visita de Natal a parentes que vejo raramente, e onde se discutiu a austeridade (o que mais haveria de ser!), que me perguntaram se tinha visto aquele economista famoso que dirigia um observatório da ONU – que seguia com preocupação a situação na Europa do Sul – e que apresentou soluções criativas mas implementáveis para renegociar a dívida pública.
Acreditem ou não, eu que sou por natureza crédulo, suspeitei da coisa. Nunca tinha ouvido falar desse observatório da ONU, nem tinha conhecimento que a situação económica e social da Europa do Sul estivesse no radar da ONU. As Nações Unidas focam a sua atenção e recursos nos problemas do desenvolvimento sustentado dos países mais pobres, onde não cabe a periferia europeia. Por outro lado, e pertencendo ao meio, estranhei nunca ter ouvido falar no eminente economista ABS. E claro, cereja no topo do bolo, a universidade de origem: uma pretensa Milton Wisconsin nome que, na realidade, designa não um estabelecimento de ensino superior, mas uma comunidade de 5546 habitantes (censo de 2010).
Mas a opinião pública nacional, incluindo alguns media de referência, engoliram, com chumbada e tudo, o isco lançado pelo douto senhor. O comportamento deste poderá ser um caso de polícia. Mas o que é facto é que ele se revelou um mestre-psicólogo, conhecedor das fraquezas lusas. À cabeça, o provincianismo que leva a preconceber que tudo o que vem do estrangeiro (e tem um doutor acoplado) é bom, e a gémea crendice que predispõe a acreditar em remédios milagrosos, sobretudo se não tiverem dor associada. Depois, a ignorância de não saber o que se deve, e a sobranceria de achar que não é preciso procurar saber o que não se sabe. Finalmente, o espírito de oposição permanente que conduz a aceitar mais facilmente quem critica do que quem defende.

IN "SOL"
06/01/13

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