ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
Portugal tem mais de um milhão
de eleitores-fantasma
Dois politólogos atualizaram um estudo sobre o sistema eleitoral. Conclusão: há mais de um milhão de "fantasmas", nos cadernos, e quase 513 mil votos... ignorados. CDS, PCP e BE são prejudicados. Alguém pediu uma democracia assombrada?
Um eleitor, um voto. Parece perfeito, não parece? Pois parece. Mas
não é. Se usássemos uma caricatura, o sistema eleitoral português
poderia ser comparado a um "queijo suíço": pelos seus buracos, circulam
"fantasmas" e fogem votos que falseiam a verdade eleitoral,
desequilibrando a democracia parlamentar. A conclusão não é nova, mas os
dados agora disponibilizados pelo Censos 2011 permitiram a dois
politólogos do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
atualizar a análise dos problemas do sistema de representação nacional
da República. As estimativas de Luís Teixeira e José Bourdain assustam:
há mais de um milhão de eleitores-fantasma nos cadernos, cerca de 513
mil votos ignorados e uma desigualdade gritante, nos 22 círculos de
eleição. Um susto, portanto.
Erradicado, segundo as autoridades, o vírus das duplas inscrições no
recenseamento eleitoral, a maior assombração continua a ser o número de
eleitores inscritos no País, que, entretanto, morreram ou emigraram.
Apesar de adotadas "boas soluções técnicas para controlar o fenómeno",
os autores do estudo reconhecem que o valor é ainda "demasiado elevado":
à época das Legislativas de 2011, haveria 1 004 437 de "fantasmas", ou
seja, mais de 10% do universo eleitoral. Embora comuns a todas as
democracias, os "fantasmas" portugueses "votam" mais. Com os cadernos
nos eixos (isto é, com uma percentagem de "assombrações" na casa dos
5%), o PSD teria menos um deputado, que seria ganho pelo PS. Nada que
alterasse o atual figurino da Assembleia. Mas os "fantasmas" acabam por
inflacionar a abstenção, exagerando assim o estigma da fraca
participação eleitoral dos portugueses. Dá-se também a circunstância de
haver círculos eleitorais que elegem mais deputados do que deveriam,
caso tudo estivesse em patamares aceitáveis (ver quadro Os 'fantasmas'
do sistema). Segundo Teixeira e Bourdain, um sistema alternativo, com um
único círculo nacional, neutralizaria o efeito das "assombrações",
tornando-se mais justo e verdadeiro.
Nesse cenário, CDS, PCP e BE ganhariam maior peso no Parlamento e a
solução permitiria, com base nos resultados das últimas eleições, a
eleição de representantes do MRPP e do PAN (Partido pelos Animais e pela
Natureza). Estes pequenos partidos receberam cerca de 60 mil votos, um
resultado superior à votação que, no sistema atual, permitiu ao PSD
eleger três deputados nos Açores, e ao PS conquistar três mandatos em
Leiria e Viseu. Por isso, os dois investigadores defendem que a melhoria
da proporcionalidade geral do sistema passa por uma decisão política.
Qualquer solução técnica pode atenuar os danos colaterais, mas os vícios
do sistema vão seguramente manter-se.
* Verdadeira palhaçada
.
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