HOJE NO
"PÚBLICO"
Doentes com Parkinson queixam-se
de falta de medicamento,
Infarmed desconhece ruptura
Doentes e familiares de pessoas com a doença de Parkinson denunciaram
esta quinta-feira que o medicamento Sinemet continua a faltar no
mercado, apontando semanas de espera e deslocações a dezenas de
farmácias para tentar comprar o fármaco.
O presidente do Infarmed justificou em Maio a falta do medicamento para
estes doentes nas farmácias com o aumento de procura por parte dos
utentes, alegando que, em Abril, houve o maior abastecimento deste
fármaco dos últimos meses.
Afastanto a hipótese de exportação
paralela, Jorge Torgal citou os números referentes ao volume de
abastecimento das farmácias com esse fármaco nos últimos meses,
revelando uma média mensal de 40 mil embalagens.
No entanto,
depois de, na altura, terem sido dadas garantias pelo laboratório que
produz o Sinemet (Levodopa + Carbidopa) - Merck - de que a situação
seria resolvida num curto espaço de tempo, o presidente da Sociedade
Portuguesa das Doenças do Movimento (SPDMov), o médico Joaquim Ferreira,
veio agora alertar para o facto de o problema se manter.
“O
problema mantém-se, e, na nossa opinião, é um problema com grande
gravidade. Neste momento os doentes têm de percorrer 10 ou 20 farmácias
para que tenham acesso ao medicamento. É um medicamento vital, se os
doentes não o tomarem têm consequências graves para o seu estado de
saúde”, disse à Lusa Joaquim Ferreira.
De acordo com o médico, e
apesar de em contactos recentes ter recebido a confirmação, por parte do
laboratório, de que o medicamento está a ser disponibilizado, os
relatos que lhe chegam dos doentes são de dificuldade na aquisição do
Sinemet, com muitos que vivem em pequenas aldeias a não conseguirem
assegurar deslocações a farmácias onde o medicamento possa estar
disponível.
Nalguns casos, afirmou o médico, verificou-se mesmo a
paragem da medicação. “Em doentes já em estado avançado da doença, ao
pararem a toma da medicação ficam completamente bloqueados do ponto de
vista da mobilidade, deixam de se conseguir mexer”, explicou,
acrescentando que, em média, uma caixa deste medicamento dá para tomas
entre duas semanas a um mês.
Rosa Teixeira da Silva, mulher de um
doente de Parkinson, contou à Lusa como os problemas na aquisição do
Sinemet deterioram a mobilidade do marido. “O meu marido piorou na
mobilidade. Retomou a medicação, mas ainda não recuperou. Só saiu de
casa para ir ao médico”, revelou, acrescentando que, há cerca de um mês e
meio, depois de percorrer todas várias farmácias. foi obrigada a pedir
ajuda num dos estabelecimentos, que resolveu o problema mandando vir os
medicamentos do Algarve.
Maria Ivone Santos, que vive perto de
Torres Vedras, diz que está “muito pior” desde que foi obrigada a deixar
de tomar os medicamentos. “Estive umas duas semanas sem os tomar. Tremo
mais. Em vez de tomar os quatro comprimidos de que preciso por dia,
tive de reduzir para darem para mais tempo”, disse.
Maria Silvina
Franco, mulher de outro doente de Parkinson, que quando a situação foi
primeiramente conhecida, em Abril, se queixou ao Ministério da Saúde e
ao Infarmed, diz que as caixas de Sinemet continuam a chegar às
farmácias “aos bochechos”.
“O problema mantém-se. [O meu marido]
não deixou de tomar a medicação porque [eu] não os deixo acabar, mas
chego a estar um mês à espera de uma caixa”, disse, acrescentando que a
farmácia onde normalmente se abastece apenas recebe 25 caixas do
medicamento por mês.
Em resposta às questões colocadas pela Lusa,
o Infarmed esclareceu que “não recebeu qualquer notificação de ruptura
de stock”, tendo recebido a confirmação por parte do laboratório de que
se mantém “o regular abastecimento do mercado”.
“De salientar
ainda que o Centro de Informação do Medicamento e Produtos de Saúde do
Infarmed não tem registado pedidos de informação relativos à dificuldade
de acesso ao referido medicamento”, acrescentou o regulador do
medicamento em Portugal.
* Esta falta do medicamento não é uma mera falha na gestão de stocks, é uma falta programada e emanada dum lobby para exercer pressão sobre uma qualquer entidade.
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