13/09/2012

ANA SÁ LOPES




A última vida 
        de Paulo Portas


Paulo Portas tenta convencer-nos de que “fuma mas não inala” o programa da troika

Chegaria o dia em que o notável esforço do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros para sair da fotografia do processo de destruição nacional em curso se tornaria patético. Foi ontem.
Quem ouvisse Paulo Portas à entrada de uma comissão parlamentar poderia imaginar que o líder do CDS estava a pré- -anunciar uma ruptura na coligação governamental na sequência do não cumprimento pelo governo de uma condição imposta pelo partido: o não aumento de impostos. Mas isso não irá acontecer. Quando assinou a coligação com o PSD e o programa da troika, Portas obrigou-se a uma agenda destrutiva da economia nacional e à retirada de rendimentos aos “pensionistas” e “reformados” que durante tanto tempo foram os principais destinatários do seu discurso. Resta-lhe agora tentar convencer-nos de que está contra as medidas, embora nada faça para as boicotar.
Portas invocou o seu “patriotismo” para ficar em silêncio. Podemos deduzir que o fez para se esquivar a criticar o governo de que faz parte em momento de avaliação da troika? Mas se o ministro de Estado não deixou um frémito de apoio às medidas anunciadas por Passos Coelho e Gaspar, fica claro que não tomará qualquer atitude para impedir que as medidas mais gravosas vão para a frente. É certo que Paulo Portas tem a bomba atómica na mão: não a usará.
Todos estes movimentos políticos são uma forma de Paulo Portas tentar convencer-nos de que fuma “troika”, mas não inala. O homem que enviou aos militantes do CDS uma carta onde deu a sua palavra de que impediria a imposição de mais impostos vai ter de recuar em toda a linha.
É um facto que a presença do CDS no governo não tem qualquer influência nos destinos do país. Se Portas pretende disfarçar esse facto com as suas voltas ao mundo enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, já não consegue enganar ninguém.
A presença no governo de Pedro Passos Coelho pode vir a revelar-se a sua última vida política – que já sobreviveu a tudo, a vários escândalos, ao governo Santana Lopes, etc., etc. Mas não sobreviverá à destruição do país, ao seu empobrecimento violento (na linha das promessas de Pedro Passos Coelho há precisamente um ano), a uma implosão social que só agora está a começar.
Quando estivermos todos mortos, o défice terá um excelente desempenho. Mas, nessa altura, Paulo Portas também estará morto. E o CDS terá o destino de outros antigos partidos.

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12/09/12
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