29/12/2012

HUGO MENDES

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Último Natal 

Não ouvimos porque Passos Coelho partilha com Merkel a narrativa da crise. A mensagem de Natal torna clara a ausência de vontade para defender o País. 

1. Chega a ser pungente observar como Passos Coelho gere, entre outras áreas da governação, a comunicação política. Estamos perante um caso de estudo de como um primeiro-ministro (PM) não deve comunicar com o País em crise profunda. Passos Coelho ignora regras elementares: a de que deve proteger-se, evitando exposição excessiva num contexto de descontentamento; a de que deve ter uma linha discursiva coerente, evitando pedir a união de todos e, no momento seguinte, colocar, de forma primária, jovens contra idosos; ou a de que há limites para a desonestidade política e intelectual, como na discussão sobre o Estado social.
 
2. Mas nem tudo é incompetência. Quando um PM escreve (no Facebook) que os cidadãos devem olhar com "orgulho" para os sacrifícios expressa uma visão moral. A mensagem não é que os sacrifícios devem ser reduzidos ou as pessoas deles protegidos - nem que eles são uma inevitabilidade do ajustamento. Não: os sacrifícios são vistos como objeto de orgulho. Que orgulho devem sentir os desempregados, os que viram o seu rendimento brutalmente reduzido, ou os que perderam a casa por incumprimento do empréstimo? O orgulho de, no fim da purga moral, vencerem os seus vícios? Fica claro que, se vivemos uma "guerra" (Passos Coelho dixit), os inimigos somos nós próprios.

3. É por isso que não ouvimos na mensagem de Natal que o PM tudo fará, quando 2013 se revelar pior do que as previsões, para proteger as famílias de medidas que agravem a situação económica. Não ouvimos porque Passos Coelho partilha com Merkel a narrativa da crise. A mensagem de Natal torna clara a ausência de vontade para defender o País: sem vontade não há exercício de poder negocial, e sem poder negocial o que sobra a Passos Coelho é um discurso ‘new age' de auto-ajuda: "uma das condições para sermos vitoriosos (...) é acreditarmos em nós próprios", ao melhor estilo de um ‘best-seller' de hipermercado.

4. A metáfora é triste e perigosa, mas se isto é uma guerra, o mínimo que pedíamos era que o general fosse competente, não partilhasse a narrativa do conflito com quem nos impõe condições, e não estivesse disposto a colaborar no sacrifício do seu povo. Por isso, é imperioso que esta seja a última mensagem de Natal do PM Pedro Passos Coelho.
 
 Sociólogo

IN "DIÁRIO ECONÓMICO"
28/12/12

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