17/12/2012



HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"

“Fazíamos vigias para fugir do padre”

Testemunha conta ao CM como os jovens se defendiam dos abusos do vice-reitor do seminário do Fundão

Sentado junto à lareira da cozinha da casa, ‘João', nome fictício, vai contando a vida no colégio e os dias com o padre Luís. O rapaz, de 15 anos, acompanhado pelos pais, fala em exclusivo ao CM dos abusos que diz ter presenciado. "O padre Luís deitava-se nas camas e masturbava--os. Depois faziam mais coisas", revela a medo e sempre negando ter sido uma das vítimas do membro do clero, agora em prisão domiciliária. "Fazíamos vigias à noite para nos protegermos, para fugir do padre. Um ficava acordado e estava atento", relata ainda o rapaz, contando que pelo menos há um mês todos souberam que os abusos eram uma constante no Seminário Menor do Fundão.
"Na minha camarata está um dos rapazes que foi vítima. Lembro-me de uma noite, há cerca de um mês, em que ele apareceu a chorar. Demorou mais de meia hora a dizer-nos o que aconteceu, só depois revelou que tinha sido o padre Luís. Estava assustado, não queria contar o que tinha acontecido", continua o menor, garantindo que nesse mesmo dia propuseram a ‘Pedro' - nome também fictício - que contasse à família o que tinha acontecido.
"Disse que não. Pediu-nos por favor para guardarmos segredo e que tomássemos outros cuidados. Foi o que fizemos", sublinha o amigo que recorda o último mês como "assustador". "Foi a partir daí que toda a gente ganhou coragem. Primeiro foi ele, depois outro e depois outro. Todos contaram que afinal também tinha acontecido com eles. O padre deitava-se de noite nas camas, quando todos dormiam. Era assim que actuava", revela ainda a testemunha - já ouvida para memória futura no tribunal local.
As histórias dos outros miúdos - que o CM também ouviu - pouco ou nada divergem. O medo e a vergonha de assumirem que foram vítimas está sempre presente. Os rapazes não conseguem explicar porque nunca denunciaram o padre e aceitaram viver tanto tempo num clima de terror. Agora dizem respirar de alívio. 

* Abominamos a pedofilia mas o texto desta notícia faz chorar as pedras da calçada, um exemplo de quando um jornal passa a pasquim.
  
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