26/12/2012

CRISTINA CASALINHO

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Natal(idade) 

Sociedades envelhecidas são tradicionalmente mais conservadoras e avessas ao risco, com as inevitáveis consequências no seu desenvolvimento. Portugal é uma das economias avançadas com população mais envelhecida: mais de 27% da população tem mais de 60 anos 

A componente demográfica tende a ser negligenciada no âmbito da discussão do crescimento económico. Não obstante, porventura não teríamos assistido ao inspirado desenvolvimento da China ou Índia sem a estabilização das suas populações. Este factor favoreceu o incremento do rendimento por habitante, que facilitou o desenrolar dos acontecimentos conhecidos. Actualmente, o desafio do desenvolvimento em África ou no Médio Oriente ainda se encontra relacionado com tendências demográficas.

Em sociedades desenvolvidas, a temática demográfica surge esporadicamente e, na maioria das ocasiões, associada ao impacto do envelhecimento populacional no equilíbrio das contas públicas. Outros efeitos da dinâmica demográfica são frequentemente ignorados. Por exemplo, na década terminada em 2008, o crescimento médio anual do Produto Interno Bruto (PIB) na Irlanda, em termos nominais, atingiu 11,5%, mais dois pontos percentuais (p.p.) que o acréscimo médio anual do PIB "per capita" (9,6%). Idêntico diferencial foi observado na Islândia e nos EUA. Estes três países partilham uma taxa de fertilidade (número de crianças por mulher em idade fértil) igual ou superior a 2. Em Espanha e no Canadá, esta diferença situou-se em 1,5 p.p. Apesar destes países apresentarem taxas de natalidade na vizinhança de 1,5, a sua população aumentou mais de 1%/ano nos últimos dez anos em resultado de forte movimento imigratório. Em contrapartida, países como a Alemanha e o Japão, com idênticas taxas de fertilidade, de 1,39, e crescimentos nulos das respectivas populações, registam incrementos do PIB e do PIB "per capita" iguais. Comparar directamente estimativas de crescimento do PIB para 2012 de 0,4% na Irlanda e de 0,9% na Alemanha subestima a diferente evolução do rendimento gerado por habitante nestes dois países.

Países com maior dinamismo demográfico, por via de maior natalidade ou mais imigração, além de apresentarem ritmos mais acelerados de crescimento do PIB, revelam maior orientação para tomada de riscos, manifesta em maior propensão para inovação e mudança. Sociedades envelhecidas são tradicionalmente mais conservadoras e avessas ao risco, com as inevitáveis consequências no seu desenvolvimento. Portugal é uma das economias avançadas com população mais envelhecida: mais de 27% da população tem mais de 60 anos. Taxas de fertilidade iguais ou inferiores a Portugal apenas podem ser encontradas na Alemanha, Japão, Hungria e Coreia. E o fluxo imigratório dos anos 1990 e 2000 converteu-se em movimento de saída.

Baixo crescimento natural da população não é uma inevitabilidade nem é irreversível. Tomando, os exemplos italiano ou francês, é possível contrariar tendências de natalidade adversas. Os países escandinavos foram particularmente bem sucedidos nas suas experiências. A sua realidade ilustra, igualmente, a inexistência de um nexo de causalidade entre baixa fertilidade e elevada taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho. Políticas de parentalidade alargadas e flexíveis acompanhadas por redes capilares de infra-estruturas de apoio a pais e crianças são invocados para explicar o sucesso nórdico.

Uma economia não pode evoluir harmoniosa e sustentadamente sem estabilidade demográfica. No mínimo, mais fraldas e biberões asseguram aumento sustentado da procura interna e uma prospectiva intergeracional mais abrangente. Dificilmente se poderá acreditar numa história consistente de crescimento económico com população em definhamento; donde, releva a necessidade de contrariar as tendências demográficas portuguesas.

Economista

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
06/12/12

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