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Deflação é a nova ameaça para a economia e a dívida portuguesa, diz UTAO
Alerta de deflação. Nível de preços na economia está a cair pela primeira vez em pelo menos três décadas. Análises da UTAO e do banco Société Générale alertam para o impacto negativo na sustentabilidade da dívida
Quando o Instituto Nacional de Estatística publicou o reporte dos
défices excessivos no final de Setembro incluiu uma revisão em baixa do
PIB em cerca de dois mil milhões de euros face ao previsto seis meses
antes – não porque a actividade tenha caído inesperadamente, mas porque
os preços no total da economia caíram inesperadamente. Tal ritmo de
queda dos preços implica um PIB nominal menor e tem potencial para
inviabilizar todo o esforço de redução da dívida pública feito por
Portugal, avisa um relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental
(UTAO) e outro do banco francês Société Générale (SG).
“Até ao momento esta tendência deflacionista está largamente ausente da
última revisão da troika e a previsão oficial mais recente [para os
preços] parece estar desajustada face aos dados actuais”, afirma James
Nixon, analista do SG, numa nota intitulada “Portugal’s slow descent
into deflation”, publicada no final de Novembro. “Tentar estabilizar
níveis de dívida quando a economia está a cair em termos reais e
nominais é duplamente difícil. Assim, o lento deslizar para deflação
pode pôr em causa todos os progressos de Portugal até à data [para
travar a dinâmica de crescimento da dívida pública] ”, acrescenta.
A queda veloz da procura interna em Portugal está a ter efeitos não só
na actividade, mas também nos preços – o deflator do PIB caiu no segundo
e no terceiro trimestre deste ano e será negativo (-0,2%) para o
conjunto de 2012, prevê a OCDE e concordam os técnicos da UTAO (um órgão
de assessoria aos deputados à Assembleia da República). A confirmar-se
será a primeira vez desde 1993 que os preços para o conjunto da economia
contraem, segundo a base de dados da Comissão Europeia.
O rácio de dívida pública - 119,1% do PIB em 2012 - é calculado sobre o
PIB nominal, indicador que mede a evolução da actividade e ainda o
efeito causado pelos preços, através do deflator do PIB (que dá a
evolução dos preços médios em toda a economia – difere da inflação, que
mede a evolução dos preços num cabaz pré-determinado de consumo das
famílias).
Valores negativos de deflação roubam décimas ao PIB nominal e
dificultam, assim, a redução do rácio da dívida – este ano, por exemplo,
a alteração no deflator explica a esmagadora maioria da revisão em alta
do rácio de dívida em 2,5% por via do PIB (comparação: se a oferta mais
alta pela empresa pública ANA, de 2,5 mil milhões de euros, fosse
inteiramente usada este ano para reduzir a dívida o impacto positivo
seria apenas de 1,5%). Perante a queda dos preços, os técnicos da UTAO
lançam um aviso no mesmo sentido do publicado pelo banco francês. “Este
período de desinflação e de baixo crescimento económico terá de ser
necessariamente transitório e é pouco compatível com taxas de juro
elevadas, sob pena de tornar imparável a dinâmica de crescimento da
dívida pública”, lê-se no documento publicado ontem sobre a dívida
pública.
UTAO cautelosa
Para
já a UTAO vai assumindo que o valor negativo em 2012 “não representa
necessariamente um risco deflaccionista, no sentido estrito de uma
redução generalizada e autosustentada do nível de preços”, e que as
revisões já feitas pela troika dizem mais respeito ao nível de
actividade. Para os técnicos “presume-se” que a queda se deva à
combinação entre a contracção da procura interna e a descida de preços
que faz parte da recuperação de competitividade externa – a mesma
interpretação do governo e da troika.
Mas a continuação da contracção da procura interna no próximo ano e
potencialmente em 2014 tornam o risco suficientemente importante para
ser notado pela UTAO – e para ser destacado com mais peso pelo banco
Société Générale. “De momento a queda dos preços em Portugal está a ser
mascarada pela recente subida do IVA, mas a tendência subjacente é
claramente visível na queda do deflator em 2012 – quando a subida do IVA
e dos preços da energia sair da comparação anual a tendência será
evidente”, aponta James Nixon, que prevê quedas dos preços na ordem dos
0,5% em 2014 (a troika prevê um deflator positivo de 1%). Nixon refere o
colapso da procura interna e o desemprego crescente como forças que
jogam a favor da evolução negativa dos preços na economia portuguesa.
* Mais uma ameaça, somos um povo acossado pelos piratas financeiros
.
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