04/11/2012

MANUELA PARENTE

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Saúde Mental 
   cada vez mais 
       uma prioridade 

Esta sociedade massificada que rejeita e ignora aquilo que produz não está longe do conceito, "longe da vista , longe do coração" 

Crescemos  ensarilhados em crenças e ideias preconcebidas , atravês  de uma educação continua que, em muito, se assemelha ao processo de domesticação, e nos afasta progressivamente da nossa verdadeira natureza.
 Pela minha experiência de vida e clinica, acredito que muitas pessoas não se conhecem verdadeiramente, apenas se reconhecem atravês da imagem que assumiram, algo semelhante a uma máscara que se coloca, não por vontade própria, mas por impossibilidade de tocar na essência, e construir-se a partir daí.
Independentemente da perspetiva biopsicosocial , onde a cultura e a ética se enquadram naturalmente, existem valores que emergem  da religião e  se entranham na cultura, tornando-se progresivamente pilares educativos basilares.
Dando o exemplo do sentimento de culpa. Este nasce e associa-se à noção de bem e de mal e à crença de que o pecado é nocivo, maléfico, maquiavélico e diabólico. Familias e familias acreditaram e acreditam neste conceito. Transmitiram-no de geração em geração e ensinaram que o bem deve ter visibilidade enquanto o mal, se acontecer, que aconteça bem escondido, de forma a que ninguém dê por nada, "longe da vista , longe do coração", "quem não vê não peca". No juizo final , as contas serão ajustadas, mas por agora, vamos saltitando de máscara em máscara, acreditando que este é o caminho certo.
Só que esta atitude de visibilidade da imagem e anulação da vontade própria , apadrinhada pela envolvência, tem custos muito altos na saúde mental das populações.
São inúmeras as situações, associadas a perturbações psicoemocionais  que na base, de um enorme sofrimento, se encontram sentimentos de  culpa  e de lealdades preversas, desenvolvidas no decurso do crescimento, em fases cruciais da formação pessoal. Culpa por não conseguir amar um pai/mãe  agressor(a), violento(a) ; culpa por não perdoar à mãe/pai  o seu egoismo de o/a querer só para si, impossibilitando o curso normal do crescimento; culpa  por ter sido abusado/a sexualmente, por alguém próximo  em quem confiavam ; culpa por não fazer os outros felizes; culpa por não amar o marido/mulher, apesar  das mil e uma razões, para o amor já não existir; culpa por não ser o aluno/a brilhante que se acredita ser desejo dos outros; culpa por não se sentir feliz, apesar de todas as oportunidades; culpa por se ser quem se é.
E é neste desejo incessante de agradar e agir em conformidade, que  se anula, precocemente, a possibilidade de cada um se reconhecer na sua identidade,  e de ser  aceite na sua heterogeneidade. Não existem pessoas perfeitas, logo não existem pais, filhos, irmãos, amigos, conjuges perfeitos. Como seres humanos que somos, permanecemos em construção desde o nascimento até à morte, e é neste ciclo inevitável que encontramos espaço para o autoconhecimento e respectiva evolução.  Os  ciclos de perturbação mental, muitas vezes diagnosticados tardiamente, ou mesmo nunca identificados, criam uma espiral patológica, com consequências  gravissimas na saúde das familias e da sociedade geral.
A situação socioeconomica que vivemos actualmente, resulta de um conjunto de opções,   politicas e macroeconómicas, mas acredito que um investimento claro e assumido, sem culpas, na saúde mental das populações, com estratégias de continuidade, pensadas para além dos calendários eleitorais, poderia a médio prazo começar a fazer diferença, nos resultados globais.
Esta sociedade massificada que rejeita e ignora aquilo que produz, numa atitude xenófoba de eliminar o que na sua otica está a mais, não está longe do conceito, " longe da vista , longe do coração".
Continua-se  a não considerar prioritário a intervenção na saúde mental. Continua-se  a culpar tudo e todos, do que a todos  diz respeito. Caminhamos muito lentamente para fazer face às necessidades básicas. É preciso mais determinação e consistência.
Pessoas mentalmente s sãs , são pessoas mais ativas, positivas, otimistas, dinâmicas, criativas e capazes de superar mais fácilmente as adversidades.
Não é de pessoas assim que Portugal precisa para se reencontrar?
A resposta existe. Haja consciência da sua necessidade!


IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
03/11/12

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