12/11/2012

CARLA HILÁRIO QUEVEDO

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 Refundar


A primeira reacção à palavra ‘refundação’, usada há pouco por Pedro Passos Coelho, foi tão desagradável como ouvir o giz branco a arranhar a ardósia. É uma palavra que soa mal ao ponto de duvidarmos da sua existência.
O dicionário da Academia das Ciências de Lisboa não prevê qualquer tipo de ‘refundação’ e ‘refundar’ não é com ele. Mas na App (muito bem pensada) do Dicionário de Português da Porto Editora, as palavras lá estão. Mas ‘refundar’ não tem o sentido que me pareceria lógico, que é o de fundar de novo. O significado aparece como ‘tornar mais fundo, aprofundar’. Não é um capricho perguntar ao primeiro-ministro o que pretende afinal dizer com a refundação, e logo do memorando da troika. A sugestão vem na sequência das palavras de Vítor Gaspar sobre a necessidade de sabermos que Estado queremos ter e pagar. Por fim, um debate a sério.

E a mulher criou a cozinha
Lillian Moller Gilbreth e o marido, Frank B. Gilbreth, eram engenheiros. Tiveram 12 filhos. Em inícios do século XX, foram pioneiros na realização de curtas-metragens, em que explicavam procedimentos industriais com objectivos de formação. Lillian trabalhava com Frank. Por ser mulher, não era aceite num meio dominado por homens, por isso não assinava as suas colaborações, deixando todos os créditos ao marido. Mas eram felizes. Testavam as teorias com os filhos que, por sua vez, contaram as experiências em livros. Entre elas, estavam os planos que a mãe fez para optimizar a vida de uma mulher na cozinha. Lillian Gilbreth estudou e pôs em prática a disposição do lava-louça, da zona de secar os pratos, mesmo ao lado do fogão perto de uma bancada, com o frigorífico um pouco mais afastado. A ideia era reduzir os movimentos da cozinheira, de modo a que não perdesse tempo. Desde 1929 que este modelo pouco ou nada mudou. Obrigada, Lillian.

Nós é que sabemos
Em Itália, um tribunal condenou seis cientistas e um oficial da defesa civil por homicídio involuntário no caso do tremor de terra na cidade de Aquila em 2009, em que morreram 309 pessoas. A decisão, mal explicada pela comunicação social, suscitou a indignação de muito boa gente. Como é que se condena um grupo de pessoas por não fazer o que é impossível de prever? Como bem explica David Ropeic, na Scientific American, o problema foi a absoluta falta de partilha da informação por parte de cientistas e defesa civil. Os dados obtidos não levavam à conclusão de que se avizinhava um tremor de terra daquelas proporções, mas também não davam para excluir a possibilidade. O Dr. Bernardo DeBernadinis, responsável pela defesa civil e um dos condenados, até aconselhou os habitantes a «beber um copo de vinho». Assim vemos que o paternalismo e a arrogância não são exclusivos dos políticos nem dos financeiros. Os cientistas também podem ser afectados.

Mrs. Clinton
A secção ‘Women’ do Huffington Post fez uma homenagem a Hillary Clinton no dia do seu 65.º aniversário, enumerando as 65 razões por que é uma mulher admirável. As razões são tão variadas quanto um par de calças às riscas que usou numa fase da sua vida, ter sentido de humor, ter sido das melhores alunas de Direito de Yale, a primeira primeira-dama a ter uma pós-graduação, saber divertir-se, ser uma mãe cuidadosa, ter sobrevivido ao caso Lewinsky, ter sido a autora da frase «é preciso uma aldeia para educar uma criança», etc. Na lista sobressaem dois aspectos interessantes, sendo um deles a esperada dificuldade de uma mulher num mundo masculino. Em Harvard, disseram-lhe que não queriam mais mulheres em Direito, por isso Hillary foi para Yale. A segunda história tem que ver com o marido. Bill era o único rapaz que não tinha medo dela. E, independentemente de defeitos e até qualidades, são os homens que não temem as mulheres que interessam. 

Branco
Sou sensível a campanhas publicitárias e produtos concebidos para mulheres. Não que me pareça que os objectos tenham de ter duas versões possíveis, consoante o género do comprador, mas agrada-me ver que os fabricantes entendem que o público feminino consome e é exigente. O aparecimento do iPad mini é o exemplo mais recente de uma tentativa de seduzir o público feminino. Um artigo no site Quartz (qz.com), conta que a Apple investiu em espaços publicitários inéditos, como publicações para mulheres, revistas de moda, etc., para anunciar o iPad mini. O mais apelativo é o aspecto prático da máquina, que cabe perfeitamente numa carteira de senhora, como, aliás, aconteceu com o Kindle Fire, um e-reader apreciado pelas mulheres, também por causa do tamanho bastante prático. O facto de ter sido mais direccionado para o público feminino faz uma grande diferença. Não tenho dúvidas de que o produto vai ser um sucesso de vendas. 


IN "SOL"
06/11/12

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