16/11/2012

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"JORNAL DE NOTÍCIAS"

Famílias já não conseguem pagar prestações de lares e creches sociais 

As instituições sociais do distrito de Bragança contabilizam já "milhares de euros" de dívidas em creches e lares relativas a pagamentos em atraso de comparticipações que as famílias não conseguem pagar devido à quebra de rendimentos. 
TEMOS 2 MILHÕES DE POBRES

Nas creches e jardins-de-infância da Santa Casa da Misericórdia de Bragança (SCMB), estas comparticipações correspondem, em muitos casos, a apenas o abono de família, mas já nem esse valor conseguem pagar porque faz falta para alimentar as crianças em casa, como relatou hoje à Lusa o provedor, Eleutério Alves.

A instituição que dirige presta serviço a cerca de 900 utentes por dia, entre crianças e idosos, e "tem já alguns milhares de euros de dívidas" de comparticipações que as famílias não conseguem pagar em função da conjuntura atual.

Eleutério Alves é também membro da direção da CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) e assegurou que esta realidade é extensível a outras instituições sociais do distrito de Bragança e a nível nacional.

Outro indicador das dificuldades das famílias, segundo aquele responsável, é a redução nos montantes das comparticipações que lhes cabem nos custos de cada utente e que são calculadas em função do rendimento per capita.

A quebra de rendimentos, provocada por situações como o desemprego ou reduções salariais, obriga a que seja recalculada essa comparticipação familiar.
"Nós estamos a notar quebras na comparticipação média das famílias à volta dos 30 por cento", afirmou.
As dificuldades em conseguir que os familiares comparticipem a parte que lhes é devida, sobretudo nos casos dos utentes idosos, são cada vez maiores, constatou o provedor da SCMB.
"Muitas vezes é apenas e só a reforma dos idosos que contribui para a comparticipação familiar", afirmou.

No apoio à infância, o provedor tem notado que os pais têm dificuldade em manter os filhos nas instituições "e alguns tentam mesmo tirá-los de lá".
A Misericórdia de Bragança tem tentado contrariar esta situação, "garantindo apenas uma comparticipação mínima e, nalguns casos, até praticamente gratuita,", mas ainda assim "começa a haver essa tendência", de acordo com o provedor.

 Eleutério Alves exemplificou com casos em que estipulam a comparticipação "ao nível do valor do abono de família e mesmo esses têm dificuldade em garantir essa comparticipação, porque o dinheiro do abono de família faz-lhes falta, de facto, para alimentar a criança".
O provedor garantiu que a Misericórdia "não deixa de prestar o serviço", mesmo em situações de falta de pagamento, mas admitiu que esta como outras instituições sociais estão "a atingir os limites da capacidade".
"Num curto prazo, as instituições não terão já capacidade financeira para responder à crise e entrarão elas próprias, também, em crise", alertou.
O provedor defendeu que "tem que haver uma adequação das comparticipações do Estado" à realidade atual.

"O Estado não se pode demitir das suas funções de Estado Social, tem de garantir o apoio à parceria e aos contratos que faz com as IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social), no sentido de resolver as situações que ele próprio deve resolver, mas que não tem capacidade para isso", considerou.


* Habituámo-nos a ser subsídio-dependentes, muitos subsídios são despesismo e convita à preguiça. O dinheiro não chega para tudo e o estado social, tal como está hoje, não dura mais cinco anos.
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